Opinião – A importância da competição externa

26/07/2018 14:15

”Nos últimos anos, a indústria tem perdido relevância no conjunto da economia brasileira. O erro? O Brasil fechou demais sua indústria à competição internacional”

A indústria no Brasil já foi 30% do PIB, hoje está em menos de 14%. O agronegócio caminha para 25% do PIB nacional. Cresceu uma média de 3.8% ao ano nos últimos 22 anos. E a indústria continua caindo.

Por que a indústria andou para trás e o agronegócio deu esse salto? Pessoas na área industrial culpam a alta do dólar, dificuldades de comprar componentes, tecnologias e peças para a indústria (o caso Embraer desmente tudo isso).

O rosário de lamentações culpa também erros de politicas econômicas, falta de incentivos corretos, abertura fora de hora para o comércio exterior de certas áreas da indústria, falta de política industrial consistente e de longo prazo como fez a Coreia.

Talvez o erro esteja em outra vertente. O Brasil fechou demais sua indústria à competição internacional. Vem desde o regime militar a ideia de proteger para que ela crescesse e depois abriria para a competição com o mundo. Alguns alertavam para o erro, como Roberto Campos, chamado de entreguista pela direita e esquerda.

Ao fechar as fronteiras à entrada de bens que poderiam competir com a indústria se criou um mercado interno cativo. Os produtos nacionais, pela falta de competição com outros lugares do mundo, foram perdendo qualidade e o preço subindo.

Se viesse a competição com o exterior, muitas empresas quebrariam, mas as que aguentassem o tranco venderiam hoje no mundo todo. Sem qualidade, por falta de competitividade, não se consegue vender bens industriais em mercados externos.

Interessante foi a união dos industriais com a esquerda na defesa de se fechar à competição mundial. A indústria nacional, que se mostrava uma das mais pujantes entre os países em desenvolvimento, está pedindo socorro.

Se o setor industrial pelo menos tivesse aceitado a integração na ALCA ou Área de Livre Comércio das Américas, incluindo os EUA (o Chile aceitou), pela competição externa estabelecida, estaria vendendo no mundo inteiro. Juntaram a esquerda e as “Fiesps” da vida nacional e mataram a ideia.

Aconteceu justamente o inverso com a agropecuária. Para competir com o exterior tinha que investir em pesquisa e ter tecnologia de ponta no campo para produzir com qualidade e em grandes quantidades. Tinha que ter, além de terra e chuva adequada, sementes especiais para cada tipo de solo e produzir tanto por hectare quanto os EUA e a Argentina.

Relatório da FAO mostrou o atual crescimento da agropecuária no Brasil. Um expert no assunto buscou outro relatório da mesma FAO de 20 anos atrás que mostrava uma atuação pífia do Brasil no campo. Éramos, juntos com a Nigéria, o maior produtor mundial de mandioca. Hoje se tornou campeão na agropecuária, competindo com o maior do mundo no setor, os EUA.

O agronegócio enfrentou o mercado externo e está onde está e a indústria, que não quis ir para a competição e sim ter mercado interno aprisionado, está andando para trás. Sem competição externa perdeu-se pelo caminho. O outro setor fez o contrário e se deu bem.

 

 

 

Por Alfredo da Mota Meneses é analista político em Cuiabá

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