Opinião – Disputa PT-PSDB segue viva para as eleições de 2018

13/08/2018 11:52

”PSDB e PT com clara vantagem à frente dos demais concorrentes, fazendo sombra nas possibilidades de vermos candidatos oriundos de partidos menores (…) eleito presidente”

O encerramento do prazo de convenções partidárias e a definição das coligações eleitorais para as eleições de 2018 nos permitem apreender importantes informações do cenário político para o pleito deste ano.

A despeito de elevadas expectativas e incertezas (alimentadas, em grande medida, pela operação Lava Jato e pelas intempéries decorrentes do grave cenário de crise econômica), tais informações fornecem pistas fundamentais para a projeção de tendências e padrões eleitorais.

Vale dizer que essas projeções já haviam sido abordadas com bastante antecedência pelo cientista político Alberto Carlos Almeida, sendo amplamente divulgadas a partir da publicação do seu excelente livro “O Voto do Brasileiro”. Os ativos políticos proporcionados pelas coligações eleitorais, detalhados abaixo, confirmam e respaldam suas projeções até o presente momento.

Levando em consideração os resultados apresentados por distintas pesquisas eleitorais, 7 candidatos despontam como os mais competitivos –ainda que os resultados de intenções de voto entre eles apresentem expressivas variações.

Esses 7 candidatos são: Lula (PT); Jair Bolsonaro (PSL); Marina Silva (Rede); Geraldo Alckmin (PSDB); Ciro Gomes (PDT); Alvaro Dias (Podemos); e Henrique Meirelles (MDB).

Nota-se que as coligações encabeçadas por PSDB, MDB e PT concentram a maior parte dos ativos políticos, a exemplo da maior capilaridade regional e da elevada representação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, para além de deterem as maiores parcelas do fundo eleitoral (48,3%, 14,7% e 15,4%, respectivamente, níveis muito superiores aos 5% do 4º colocado, o Podemos) e do tempo de TV (sendo 90% deste distribuídos de forma proporcional ao número de deputados eleitos).

Tais ativos políticos colocam os 3 partidos como protagonistas na corrida eleitoral para a disputa no 2º turno. A altíssima rejeição ao governo do presidente Michel Temer, no entanto, associado ao caráter mais fragmentado do partido (lideranças importantes do MDB do Nordeste negociando alianças regionais com o PT, por exemplo), despontam como fatores que prejudicarão o candidato Henrique Meirelles de avançar na disputa rumo ao 2º turno.

Com base nos dados da distribuição do eleitorado brasileiro no território nacional, a coligação encabeçada pelo PSDB está presente em governos estaduais que concentram 18% do eleitorado nacional, percentual que salta para 40% quando se inclui o Estado de São Paulo, conhecido reduto eleitoral tucano, atualmente governado por Marcio França, do PSB, vice na chapa de Geraldo Alckmin nas eleições de 2014.

Por outro lado, Estados governados pela coligação liderada pelo PT concentram 27% do eleitorado nacional, o que associado a forte presença de sua máquina partidária no Nordeste (aproximadamente 26% do eleitorado total) e a consolidação de alianças regionais com lideranças do PSB e MDB, garantem solidez e competitividade suficientes para alavancar seu candidato ao 2º turno.

Ao analisar o cenário eleitoral por meio da distribuição destes ativos políticos, evidenciam-se os motivos pelos quais candidaturas como a de Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) tenderão a perder fôlego ao longo da campanha, independentemente dos bons resultados a nível de intenção de voto demonstradas em pesquisas eleitorais até o presente momento.

A capilaridade política, traduzida em importantes palanques estaduais e municipais, e a distribuição assimétrica de recursos do fundo partidário e do tempo de TV, se converterão em fatores estratégicos fundamentais na evolução do desempenho das campanhas presidenciais.

Independentemente das elevadas expectativas e incertezas em torno das eleições deste ano, Alberto Carlos Almeida traçou, com antecedência, uma linha probabilística clara do que vimos se concretizar nas convenções partidárias e nas definições das coligações eleitorais: PSDB e PT com clara vantagem à frente dos demais concorrentes, fazendo sombra nas possibilidades de vermos candidatos oriundos de partidos menores – ou mesmo um outsider – eleito presidente. Tal como previu Alberto Carlos Almeida, a disputa PT-PSDB pela presidência da República segue viva e reafirma sua força para as eleições deste ano.

 

As opiniões expressas são de caráter pessoal e não representam a posição da FGV.

 

 

Por Guilherme R. Garcia Marques, 28 anos, Cientista político e mestre em Economia Política Internacional. É analista da Diretoria Internacional da Fundação Getulio Vargas, membro do Grupo Latino Americano para a Administração Pública (GLAP/IIAS) e pesquisador na área de políticas públicas e desenvolvimento.

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