27/08/2018 13:45
”Nesta quadra homens e mulheres se uniram para a proteção física da mulher, mobilizados por sucessivas tragédias ocorridas no país, no mais das vezes no próprio ambiente doméstico…”
Está se operando no país uma bela transformação. Um novo olhar se forma em defesa da mulher, ela que, em outros tempos, fora tão rebaixada, vilipendiada, escravizada e diminuída alcança agora o patamar que verdadeiramente lhe pertence, de respeito, e dotada de personalidade e de liderança capaz de conduzir qualquer processo, mesmo o que requer alta capacidade técnica ou intelectual.
O movimento que veio até nós com reivindicações que tributaram no maiúsculo valor feminino de hoje originou-se, certamente, na Europa, por onde pompearam as damas que levantaram seus direitos, particularmente em França, a pátria das mulheres, sempre sede de mudanças sociais e políticas. Lá travaram-se protestos para reconhecer o segundo sexo como igual nas iniciativas até então só cumpridas pelos homens. A França, sempre a França, matriz universal do pensamento, é o território nativo dos avanços cívico-sociais que atravessaram os séculos em favor da civilização.
Antes da revolucionária Simone, um nome que teria historicamente estimulado o passo para descerrar a cena da coragem e das virtudes da mulher e mostrá-las ao mundo, foi a heroína Joana D’Arc (santa em 1916), uma quinhentista predestinada, a provar com o sacrifício supremo a bravura e a dignidade do gênero feminino.Antes de Simone de Beauvoir, a rainha do existencialismo, e, junto a ele, realçando-se como defensora do feminismo, outras autoras registraram em França os rudimentos do valor feminino e as queixas pela já execrável superioridade masculina, manifestada por vezes torpemente, o que muito infelicitou a humanidade. Em “O Segundo Sexo”, seu livro bombástico, Simone abre temas interditos ou defesos à literatura comum e discorre francamente sobre o sexo e a sexualidade.
Amandine Dupin, depois de sua experiência monástica, iniciou-se na literatura e, para tanto, o nome masculino de George Sand lhe foi necessário adotar para garantir seu ingresso quase anônimo no restrito clube de escritores. Em seus romances, crescentemente pontificava a liberdade da mulher como direito de dirigir-se por si mesma, usava roupas masculinas ao tempo em que foi companheira de figuras ilustres de sua época (Chopin, Mérimée), lançando a moda vitoriosa das calças compridas para elas.
Mais à frente, já no século XX surge o monumental “A Mística Feminina”, em cujas folhas a americana Betty Friedan sedimenta o futuro da mulher, um volume resultado de anos de pesquisa e entrevistas, mais um libelo visando o resgate do papel até então desempenhado pelas mulheres que se entregavam exclusivamente a tarefas domésticas.
Com este arsenal de valiosos documentos em favor da personalidade da mulher, o Brasil também deu seus passos na direção proposta pelas estrelas feministas, a começar pela concessão do voto irrestrito, discussão que se estendeu desde o século passado, destacando-se particularmente nesta luta a bióloga paulista Bertha Lutz.
Hoje, as mulheres ocupam posições estratégicas nos três poderes da República, e uma delas exerceu, por mais de uma vez, a chefia do executivo federal.
Nesta quadra homens e mulheres se uniram para a proteção física da mulher, mobilizados por sucessivas tragédias ocorridas no país, no mais das vezes no próprio ambiente doméstico, responsável por ocultar os agressores. Esta cultura de re(valorização) da mulher impulsionou a sociedade e esta desafiou o legislativo para se estabelecer um círculo legal de proteção à mulher, culminando os esforços de todos os setores na já popular lei “Maria da Penha”, primeira senda objetiva de repressão, persecução e punição dos ofensores físicos ou morais à integridade da mulher brasileira.
Ganha mais altura e sonoridade a canção melodiosa de Benito de Paula: Mulher brasileira em primeiro lugar …
Por José Maria Couto Moreira é advogado.