07/08/2019 11:58
”Entremos em pânico frente aos problemas apontados e façamos alguma coisa para resolvê-los enquanto ainda temos algum tempo”
Este artigo é destinado aos que se preocupam com o futuro da humanidade. Os interessados encontrarão muitas informações na internet, por exemplo, o recente “Relatório de Desenvolvimento Humano 2019, com foco na questão da Desigualdade”, (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME).
Realço, junto com muitos outros estudiosos, quatro questões prioritárias, entrelaçadas entre si, para que sejam consideradas nos debates e decisões politicas, nacionais e internacionais, com a esperança de ainda se tentar fazer alguma coisa para salvar a civilização.
Comecemos com o aquecimento global que motivou a previsão da possibilidade, em algumas décadas, do desaparecimento de grande parcela da humanidade, efeito das alterações climáticas que começam a ser percebidas. Também já foi alertado o provável desenvolvimento de novas doenças, provocadas por vírus e bactérias desconhecidos, há milênios adormecidos nas condições de temperatura e humidade dos seus nichos.
A informática, a robotização e a inteligência artificial começam a eliminar postos de trabalho. Por maiores que sejam os investimentos, públicos e privados, não haverá empregos para todos. Isto precisa ser dito: os povos estão sendo enganados. Não existem recursos para atender a todos nas suas necessidades mínimas de trabalho, bens e serviços que, ao menos, garantam uma existência pobre, mas digna.
Os desempregados passarão a receber o mínimo necessário para o atendimento das suas necessidades essenciais. Serão reprimidos nos seus protestos, que certamente ocorrerão, ou por apropriada propaganda massificante, ou por forças policiais repressivas especializadas no controle de multidões. As experiências dos muros de contenção de movimentos populacionais, concebidos antes em Berlim e agora em Israel e nos Estados Unidos, são como que o prenuncio de outros muros, que poderão vir a separar os aquinhoados com educação excelente, credenciando-os a se tornarem os detentores dos postos de trabalho, da riqueza gerada e de seus benefícios, inclusive o exercício do poder sobre o grande sistema internacional de produção/consumo/inovação/saber, daqueles que viverão das contribuições “oferecidas” pelo outro lado dos muros…
A democracia representativa exerce com deficiência crescente suas funções de expressar a vontade dos povos, devido à massificação da propaganda e o uso crescente do novo e veloz processo comunicativo: as “redes sociais”. A opinião publica está sendo mal formada pelas curtas mensagens das “redes sociais”, substituindo a leitura da imprensa tradicional com suas reportagens e editoriais analíticos. A superficialidade intelectual do eleitorado, dos parlamentares e dos dirigentes eleitos, incapazes de entender o que está acontecendo, de identificar quais os reais e mais graves problemas humanos, de perceber a crise global – complexa e sistêmica – que se aprofunda, completa o quadro da fragilização do processo democrático.
No longo prazo, na visão de muitos estudiosos, só uma radical reformulação dos costumes e dos estilos consumistas de vida, por meio de um global programa de educação de qualidade para todos, poder-se-á começar o encaminhamento consciente de soluções democráticas, justas e pacíficas para os problemas apontados. Tais providencias não fazem parte dos instrumentais da economia e da politica e sim das crenças morais.
Essas crenças, hoje progressivamente abandonadas pelos povos, poderiam resultar na generalizada consolidação da transformadora pratica consciente da solidariedade, como única forma de organizar e fazer funcionar a necessária vida em comum nas sociedades – a solidariedade pode até vir a ser um bom negócio…
Com a palavra as hoje quase silenciosas lideranças intelectuais, dispersas e desorganizadas nos seus cada vez menos numerosos recantos de autentica erudição. Onde estão as religiões históricas, patronas que um dia foram da ética, agora retraídas e cada vez mais distantes da vida e da angustia existencial das pessoas?
Lideranças politicas, qualificadas intelectualmente e com determinação movida pela ética Humanista, (o respeito efetivo pela dignidade da pessoa humana, vetor principal do processo histórico), deverão conduzir este sonho de recuperação social, por meio da ação politica honesta e responsável, sem a qual nada poderá ser feito de forma democrática, com a perspectiva da promoção da liberdade e da justiça.
Recentemente a jovem sueca Greta Thumberg, (16 anos), que entusiasma a Europa com sua pregação em defesa do meio-ambiente, falando no parlamento da Inglaterra disse: “eu estou aqui para convidá-los a entrar em pânico”. Entremos em pânico frente aos problemas apontados e façamos alguma coisa para resolvê-los, solidariamente, enquanto ainda temos algum tempo.
Por Eurico de Andrade Neves Borba, 78, escritor, ex professor da PUC Rio e ex Presidente do IBGE, mora em Caxias do Sul.