23/10/2019 13:50
”O Meio Ambiente tem ideologia? Vários exemplos provam que não; Sustentabilidade olha para frente. Esquerdismo verde se firmou dentro do ambientalismo nacional”, escreve Xico Graziano
Fortes críticas ao governo de Jair Bolsonaro indicam 1 viés ideológico no ambientalismo brasileiro. Pergunto: para defender o meio ambiente precisa ser de esquerda?
Óbvio que não. Quando, em 1968, o Clube de Roma convocou os estudiosos da ecologia para discutir limites do crescimento econômico, sinalizava uma agenda conservadora. Naquela época, todos acreditavam que o petróleo iria acabar no final do século. Era preciso garantir a riqueza da sociedade.
A receita do Clube de Roma para evitar o colapso civilizatório –crescimento zero e controle populacional– penalizava os países em desenvolvimento. Estes, liderados pelo Brasil, gritaram em defesa da industrialização, e dos empregos do povo, na marcante Conferência da ONU em Estocolmo (1972).
Mais tarde, quando os partidos ecológicos surgiram na Europa, no início dos anos de 1980, faziam questão de deixar claro sua posição política: “nem capitalismo, nem socialismo, somos verdes”!
Formavam uma verdadeira terceira via, equidistante dos polos da Guerra Fria que dominava o cenário da política mundial. Havia 1 consenso, entre os ambientalistas, de que ambos os sistemas econômicos maltratavam a natureza.
Paulo Nogueira Neto, o maior expoente do ambientalismo brasileiro, nunca deixou se catalogar ideologicamente. Serviu ao regime militar, nos governos de Ernesto Geisel e João Figueiredo, comandando, por 12 anos, a Secretaria Especial de Meio Ambiente. Falecido este ano, seu legado é extraordinário.
Gustavo Krause, economista pernambucano com formação liberal, ocupou o Ministério do Meio Ambiente no 1º governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi ele que elevou a reserva legal da Amazônia de 50% para 80%.
O ambientalismo derivou para o campo da esquerda, notadamente, com a ascensão de Marina Silva ao comando da pasta do Meio Ambiente, onde pontificou de 2003 a 2008. Melancias, verde por fora, vermelhas por dentro.
Nas articulações e preparativos de governo para a Conferência da ONU (2012), no Rio de Janeiro, conhecida como a Rio+20, o esquerdismo verde se firmou dentro do ambientalismo nacional. Até o MST, pródigo em entregar florestas virgens para a reforma agrária, virou ecologista. De araque, claro.
Quando a proposta do PNUMA/ONU sobre a governança global da “economia verde” chegou na Rio+20, acabou rechaçada pelo Fórum das ONGs. Argumento? Na ponta de língua: “Não queremos esverdear o capitalismo, queremos substituí-lo”.
Quem conhece esse assunto sabe que o esquerdismo irritou um grupo importante de cientistas presentes na Rio+20, entre os quais o físico José Goldemberg. Entidades sérias do ambientalismo tradicional, se retraíram. Conclusão: a Conferência da ONU, tomada pela ideologia anticapitalista, acabou um fracasso total.
Passou o tempo. Descobriu-se o Petrolão e avançou a operação Lava Jato. Dilma sofreu o impeachment, Lula foi preso. Cortaram-se as verbas públicas que irrigavam o esquerdismo verde. Restou sua ira, destilada agora contra Jair Bolsonaro.
O maior produtor de alimento orgânico do Brasil é uma família tradicional de usineiros paulistas. Suas lavouras de cana, certificadas em Sertãozinho (SP), são incrivelmente bem cuidadas. Um exemplo ecológico, 100% capitalista.
Grandes empresas, muitas da China, investem fortunas nas energias renováveis, eólica e solar, fazendo as mudanças de clima movimentarem a competição global. O turismo ecológico se expande em várias partes do mundo, gerando empregos e renda na vitória contra o pueril preservacionismo.
Definitivamente, não. A causa ambiental não pertence à esquerda. Nem à direita. Sustentabilidade olha para a frente, não para os lados. Tem a ver com vida, não com ideologia.
Por Xico Graziano, 65, é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano.