14/05/2020 16:49
”Os condenados, sabemos, torcem pela pandemia, se encontram concentrados em rodadas livres, por onde circulam , provavelmente, em mesas com alguma botelha de Romanée Conti”
Há uma atração televisiva que, se dantes era aguardada para uma atualização de nossas informações diárias como fonte confiável, hoje é evitada. E por várias razões. Um informativo deve ser, primeiramente, veraz, comparável às informações gerais de outras emissoras, pois a opinião é formada pelo ouvinte, e não pelo órgão, quando não tiver este natureza ou característica opinativa.
Hoje, este informativo não desperta mais o interesse de outrora, ao contrário, é trocado por alternativa que possua uma apresentação mais branda, sem tiroteios. Diz-se agressiva porque a bancada de locutores não transmite informação tecnicamente aceitável, é visivelmente tendenciosa e verbaliza o noticiário com encenação dramática, patética, às vezes infamante. Quando há um princípio de informação que aparentemente pode servir ao governo, a locução é sempre adversativa, finalizando a bancada com um testemunho ou uma nova informação orientando o fato para uma interpretação desfavorável ao Planalto. É assim que se constrói a desinformação, o que não interessa ao público espectador, que, ao contrário do que julga a emissora, tem discernimento ou é sensível o bastante para entender que o interesse do jornal não é a informação. Opinião mais ilustrativa que corre impiedosamente pela internet exibe o telespectador temeroso que, ao anúncio do Jornal Nacional, apressadamente se previne de algo que possa defendê-lo do Corona, já agora dentro de casa, coloca sua máscara, veste seu capacete e cobre-se por inteiro de capa plástica capaz de torná-lo imune ao agente transmissor (eletrônico), que não é, já pela insistência assustadora do jornalismo exagerado, uma ameaça, mas um ataque imediato. A cena é risível.
Quando a emissora troca o conteúdo, passa a ilustrar e relatar o caso Moro, que não se despediu ainda do noticiário. Será possível que num país de 8.500.000 quilômetros quadrados e com 210.000.000 não há outro assunto ou informação de interesse da sociedade que não o Corona e o Moro ? Não há uma informação ou um editorial que provoque otimismo ou o entusiasmo da população e a faça erguer-se de um período longo de desagradáveis mesmices?
E mudando de pau pra cavaco, por onde andam aqueles meliantes condenados pela justiça e pelos brasileiros que se aproveitaram da pandemia para deixarem as suas respectivas celas ? Isto interessa mais do que as notícias repetidas, porém com maior intensidade e alarme. Os condenados, sabemos, torcem pela pandemia, se encontram concentrados em rodadas livres, por onde circulam , provavelmente, em mesas com alguma botelha de Romanée Conti ou mesmo da boa e velha pinga, e agora, vejam como a vida é caprichosa, torcem também pela sorte do ex-juiz Moro, não mais o rival de antes, mas o cavaleiro da (única) esperança.
Por José Maria Couto Moreira é advogado.