Opinião – Antes que a saúde suplementar precise de UTI

16/09/2020 16:02

“O desemprego poderá representar perda significativa de beneficiários de planos empresariais, mais um golpe para as operadoras de planos saúde”, diz Alexandre Ruschi

A necessidade de afastarmos os males do embate ideológico sobre o sistema público e privado de saúde brasileiros é uma das oportunidades de aprendizado que temos, a partir da crise gerada pela pandemia de covid-19.

Não faz mais sentido. Superamos isto em 1988, quando a sociedade brasileira legitimou, por meio da carta magna brasileira, a existência destes dois sistemas. Cabe-nos fazê-los eficientes e eficazes nos seus propósitos e acessíveis aos brasileiros e brasileiras que por eles optarem.

Na pandemia, os impactos foram logo sentidos em ambos os sistemas, desde o primeiro mês de sua chegada ao país: falta de leitos, sobrecarga para as operadoras de saúde, que passaram a ter que atender aos inadimplentes, e alteração nas condições negociadas com empresas, decorrente da crise econômica que resultou em desemprego e outros mais.

Portanto, urge pensar em formas que permitam manter a sustentabilidade desses setores, responsáveis pelo atendimento a toda a sociedade brasileira. Afinal, somente a saúde suplementar agrega 47 milhões pessoas no Brasil e emprega 5,1 milhões, de acordo com a edição 32ª do Relatório do Emprego na Cadeia Produtiva da Saúde, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

Desde o início da pandemia, dezenas de iniciativas parlamentares tramitam no Legislativo federal, estaduais e municipais, com propostas diversas tratando quase unanimemente, de uma forma simplista, de temas de grande complexidade como suspensão de reajustes contratuais, liberação de carências e ampliação de coberturas, nesta combalida atividade empresarial que, historicamente, conforme dados publicados pela ANS anualmente, despende no custeio de seus compromissos assistenciais R$ 85,00 de cada R$ 100,00 que arrecada.

Nenhuma dessas iniciativas teve o cuidado de respaldar-se em estudos técnicos atuariais que preservasse o princípio do mutualismo, indispensável à preservação sustentável dessa atividade, confundindo responsabilidades públicas com privadas.

O avanço dessa tragédia humanitária traz reflexos brutais sobre a economia em todas as nações. O desemprego poderá representar perda significativa de beneficiários de planos empresariais, mais um golpe para as operadoras de planos saúde. De acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos de saúde já perderam 283 mil clientes, nesse último trimestre.

O relatório sobre covid-19 da ANS revela que, embora os custos médios diários das internações decorrentes dessa doença e de outras sejam semelhantes, o tempo de internação do paciente contaminado pelo novo coronavírus se estende por mais dias. O custo médio da internação pode ser até 77% superior, sobretudo quando é necessária a internação nas Unidades de Tratamento Intensivo, quase 30% mais alto do que nas unidades de internação convencionais.

Embora só agora o Sistema Único de Saúde tenha tido a sua importância reconhecida, é preciso entender que o SUS não tem como suprir toda a demanda da população brasileira, de quase 211 milhões de pessoas. É importante que passada a pandemia, todo o setor se reorganize de forma sustentável e perene, para o bem de toda a sociedade brasileira.

 

 

 

 

Por Alexandre Ruschi Cirurgião geral coloproctologista, graduado na Universidade Federal do Espírito Santo. Atualmente é presidente da Central Nacional Unimed, membro dos conselhos de administração da Unimed Participações, da Unimed Vitória e presidente executivo da Federação das Unimeds do Estado do Espírito Santo.

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