25/11/2020 13:07
A taxa de abstenção no 1º turno bateu recorde em 2020
A eleição mais atípica desde a redemocratização teve um grande vencedor: o centro. Em 2016, o país foi tomado pela onda da novidade e da antipolítica, que se consolidou na eleição de extremos em 2018.
Quatro anos depois, em meio a maior pandemia em um século, a onda que varreu o Brasil foi a da sensatez. O eleitor cansou de radicalismo, intolerância e violência. Políticos experientes e bem avaliados foram reconduzidos ao cargo. Aventureiros foram rechaçados. Em tempos de crise, confiança e conhecimento são valores inegociáveis. E a política, entendida como diálogo, é instrumento fundamental para construir soluções e atravessar a tempestade.
Sem ela, o horizonte é turvo e nebuloso. O eleitor sentiu o baque. Navegamos em mar revolto. E a ausência mais sentida é a do capitão.
A pandemia acena com uma segunda onda –a exemplo do que acontece nos Estados Unidos e na Europa–, o desemprego deve aumentar antes de diminuir e não há acordo para votar o Orçamento de 2021 nem fazer reformas estruturais inadiáveis.
Se há um recado que deve servir de alerta para políticos de todos os matizes é o seguinte: após quase 2 anos da política de confronto, o eleitor está exausto. O debate público foi sequestrado pela polarização, que produz crises diárias e não aponta saídas.
Parte da dificuldade está na ausência da boa política e de líderes e na demora em formar uma base aliada.
As urnas deram vitórias importantes no 1º turno ao MDB –que lidera o número de prefeituras no país, com 754–, PP, PSD, PSDB e DEM. Surgiu ainda uma força de esquerda renovada, a maioria fora do PT, com políticos jovens como Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila, João Campos e Marília Arraes. Candidaturas com o prenome “delegados” e “capitães” também proliferaram. Algumas bem-sucedidas emplacaram o segundo turno em Fortaleza e Belém.
Ainda assim, a direita estridente, ideológica e negacionista saiu derrotada das urnas. A boa política e a boa gestão receberam um voto de confiança. Que seja o início de uma onda de confiança, equilíbrio e consensos.
Por Wellington Moreira Franco, 76 anos, foi deputado federal, prefeito de Niterói, governador do Rio de Janeiro, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e de Minas e Energia. É filiado ao MDB.