01/10/2021 12:41
”Está mais do que na hora de jogar luzes nos demônios que tanto atrasam a biotecnologia em nosso país”, enfatiza a autora
Meu pai faleceu em 3 de setembro, dia em que eu comemorava a publicação de um artigo com os maiores nomes da ciência brasileira.
Quando eu era muito pequenina, tive muito medo de um tal de Uri Geller que dizia ter poderes paranormais. O papai me explicou que era um mágico, como aqueles de circo: enganava. Depois, foi o pânico gerado pela queda do Skylab. Na minha fantasia, cairia inteiro e, é óbvio, sobre a nossa casa. Ele me explicou que se desintegraria. Como houve o acidente de Chernobyl, certamente teria o de Angra. Mais uma vez, trouxe argumentos sólidos para que eu pudesse ficar menos “assombrada pelos demônios” inventados por humanos para controlar os mais ingênuos.
Portanto, aprendi, desde muito pequenina, que, conforme esclarece Carl Sagan, a ciência nos convida a acolher os fatos. Não existem verdades sagradas, assuntos delicados, crenças arraigadas e questões proibidas para a ciência. O método científico constitui-se em uma ferramenta essencial para a democracia. A ciência nos leva a compreender como o mundo é na realidade e não como idealizamos. Há quem diga que a ciência é arrogante, mas ela é o exercício da humildade.
Por tudo isso, não tenho dúvida: o artigo publicado aqui em 23 de setembro é mais uma tentativa de assustar criancinhas. Colocar medo infundado. Mas por quê? Essa é a pergunta que não quer calar. Falam como se os transgênicos fossem demônios. Repetem o mesmo blá-blá-blá há mais de 20 anos. Ao final, sugerem um debate no STF e uma CPI para discutir a atuação dos maiores cientistas brasileiros na CTNBio.
Minha sugestão: Sim! Vamos realizar um debate amplo e irrestrito. Vamos discutir os motivos pelos quais existe uma “Campanha por um Brasil Livre de transgênicos”. Teremos uma oportunidade para que expliquem quem financia esta “campanha”.
Levem os cientistas brasileiros para explicar o que são os transgênicos e seus benefícios. Mas façam as escolhas dos cientistas pelos seus Currículos Lattes (aliás, convido o leitor a pesquisar os currículos dos autores dos 2 artigos, incluindo o meu). Por fim, incluam também os 109 prêmios Nobel que acusam o Greenpeace de “crime contra a humanidade” por atacar transgênicos.
Está mais do que na hora de jogar luzes nos demônios que tanto atrasam a biotecnologia em nosso país.
Por Maria Thereza Pedroso, 52 anos, é pesquisadora da Embrapa Hortaliças. Doutora em Ciências Sociais pela UnB (2017), Mestre em Desenvolvimento Sustentável pela UnB (2000) e Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1993).