27/10/2021 08:01
”Com o devido respeito aos demais candidatos, o fato concreto é que, afinal, surge nova opção, para a decisão livre e soberana do eleitor”
Nesta quarta, 27, o senador Rodrigo Pacheco (MG) se filia ao PSD, em cerimônia no Memorial JK, em Brasília. Nasce mais uma opção na disputa pela presidência da República, o que não significa ser contra candidato “a”, “b” ou “c”. Atende apenas aqueles que desejam comparar e refletir sobre o futuro do país e não aceitam a sociedade brasileira dividida entre “nós e eles” e fogem de radicalismos, independente do passado partidário, classe social, crença religiosa etc. A inspiração vem do velho brocardo tomista “Virtus est médium vitiorum et utrimque reductum” (“A virtude é o meio termo entre dois vícios, equidistante de ambos”).
A observação isenta do cenário político nacional aponta que o senador Rodrigo Pacheco terá todas as condições de ser a “terceira via”, na corrida presidencial. Ele não traz consigo rusgas e atritos com os demais pré-candidatos, os quais enfrentam dissenções internas nos seus próprios partidos. Preserva as relações institucionais e diálogo com o presidente Bolsonaro. Dispõe de uma sigla unida (PSD) em torno do seu nome, que facilitará o trabalho de reconstrução do país, após a pandemia. Para que fosse lançado, concorreu a habilidade do ex-deputado e ex-ministro Gilberto Kassab, que preside o PSD. O senador Pacheco tem o perfil ideal para apelar à unidade nacional e dialogar com “todos”.
Não se há de negar, que a viabilização da “terceira via” será difícil. Todavia, sendo mineiro, o senador já traz consigo a característica da política conciliatória, cujos exemplos foram JK e Tancredo. Do ponto de vista eleitoral, Minas Gerais é o segundo colégio eleitoral, que lhe garante vantagem na largada.
A consolidação dependerá de dois fatores básicos: candidato de consenso e discurso moderno. O grande desafio será convencer outros pretendentes formarem “coalizão” de partidos, oriundos do centro, direita e esquerda não radicais. O discurso sensato e moderno preservará a “responsabilidade social e a austeridade fiscal”, demonstrando que o equilíbrio das contas públicas pode ser alcançado juntamente com as políticas de redução das desigualdades sociais e investimento público para geração de empregos. Tais diretrizes, ao invés de populistas, buscarão a estabilidade econômica responsável e a distribuição justa de renda.
Recorde-se que JK, o conterrâneo de Rodrigo Pacheco, ao lançar a sua candidatura em 1954, apresentou um discurso desenvolvimentista e utilizou como slogan de campanha “50 anos em 5”. Foi desacreditado, mas fez o que prometeu.
De agora por diante, cada gesto ou decisão do senador Rodrigo Pacheco poderá fortalece-lo, ou enfraquece-lo. Compreende-se o seu estilo ponderado, em razão de presidir o Congresso Nacional.
A propósito, cabe um alerta.
Acham-se pendentes e imobilizadas no Senado duas propostas legislativas do interesse direto da nação, ambas já aprovadas na Câmara. São elas: a taxação de lucros e dividendos, a título de Imposto de Renda na fonte, o que já existe em todos os países capitalistas do mundo e o projeto que permitirá a redução do preço da gasolina. Tais medidas aumentarão a receita pública e favorecerão a ajuda aos necessitados
A nação aguarda que essas matérias pendentes saiam da gaveta do senado e sejam votadas com urgência. São conhecidas as pressões econômicas para que isso não ocorra. Caso o senador aceite tais pressões, começará muito mal. Poderá comprometer de saída o projeto da “terceira via”. O que se espera dele são as virtudes pregadas por Santo Tomaz de Aquino da “coragem, fortaleza e sabedoria”. Walt Disney, o gênio americano, aconselhava que a melhor maneira de iniciar é parar de falar e começar a fazer.
Pelo que se percebe, a pré-eleição de 2022 entra em nova fase. Nunca é demasia lembrar os deveres da cidadania, independente de qual seja a escolha nas urnas. Não se justificará apatia ou indecisão. Platão já advertia “que o preço a pagar pela não participação na política é ser governado por quem é inferior”.
Toynbee, séculos depois, afirmou que “o maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. Repita-se o alerta do almirante Barroso: “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”.
Com o devido respeito aos demais candidatos, o fato concreto é que, afinal, surge nova opção, para a decisão livre e soberana do eleitor.
Por Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino Americano; ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal; procurador federal – [email protected] – @blogdoneylopes