30/11/2021 06:08
”A coisa realmente degringolou, com jornalistas assumindo publicamente que era necessário deixar a objetividade de lado por uma ‘causa maior’ ”
Décadas atrás, o jornalismo não tinha tanto assim a pretensão de objetividade e imparcialidade. Havia jornal ligado a partidos políticos e a causas ideológicas, e os repórteres normalmente eram jovens e inexperientes. A profissionalização da carreira veio com boas intenções, portanto: oferecer o ideal de jornalistas treinados que pudessem deixar suas emoções de lado para reportar fatos de forma objetiva, trazendo a verdade à tona.
Na teoria, algo interessante. Na prática, uma utopia. Primeiro porque é impossível deixar totalmente de lado o próprio viés. Segundo, porque nas faculdades de jornalismo já se imprimia determinada visão de mundo, e muitos professores passaram a criar cópias de si mesmos, produzindo uma espécie de clubinho “progressista”. Não são poucos os jornalistas que se enxergam como guias de massas ignorantes que precisam ser educadas, em vez de ter acesso aos fatos e julgar por conta própria. O desprezo pelo publico é evidente muitas vezes.
Nos anos recentes, portanto, a imprensa vem se mostrando mais um instrumento de imposição de certas ideologias do que de reportagem dos fatos de maneira mais imparcial e isenta. No passado, os principais veículos de comunicação detinham basicamente o monopólio das narrativas, controlavam a opinião publicada e, assim, boa parte da opinião pública. Não havia tanto espaço para o contraditório.
Mas o advento das redes sociais mudou isso. Além do aspecto financeiro, que desafia os modelos tradicionais de negócios desses jornais, há essa perda da hegemonia nas narrativas, e a exposição muitas vezes de um escancarado viés ou torcida. A manipulação dos que simulam total imparcialidade e ainda acusam os outros de espalhar Fake News salta aos olhos, e o resultado inevitável é a perda de credibilidade.
Com os fenômenos Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil, o que já estava ruim piorou e muito. A coisa realmente degringolou, com jornalistas assumindo publicamente que era necessário deixar a objetividade de lado por uma “causa maior”. Para salvar a democracia das “terríveis ameaças fascistas”, tudo passava a ser não só justificável, mas desejável.
Os exemplos pululam, e talvez o mais óbvio seja a insistência da mídia americana no suposto conluio de Trump com os russos, mentira fabricada pelos democratas que a imprensa martelou por dois anos. Mais recente, no Brasil, basta mencionar como o jornal O Globo retratou o encontro do ex-presidente com Kyle Rittenhouse: “Trump se reúne com assassino de ativistas antirracistas nos EUA”. Isso mesmo depois que Kyle foi considerado inocente pelo júri popular, tendo agido em legítima defesa contra criminosos com extensa ficha corrida, e brancos, que tentavam agredir o garoto. Como confiar nesse tipo de jornalismo?
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.