07/12/2021 07:09
”Os tucanos não concordam, e por isso são, via de regra, parte do problema, não da solução”
Há muita gente – muito empresário – que repete que tem apreço pelo liberalismo, mas… e sempre tem esse “mas”, para logo em seguida vir a defesa de um escopo muito abrangente do estado no combate às “desigualdades”. É como se um país pobre precisasse de um governo hiperativo – e caro – para promover a “justiça social”. Mas é assim mesmo?
Na verdade, vejo como o contrário: o estado de bem-estar social costuma ser um luxo que países já ricos – graças ao liberalismo – podem se dar, e que mesmo assim tende a custar muito caro, engessar a economia, produzir novas injustiças e retirar recursos dos mais pobres para os mais ricos.
Pensei nisso ao ler a entrevista de Arminio Fraga ao Estadão hoje. O ex-presidente do Banco Central e investidor do mercado financeiro, onde trabalhou com George Soros, considera que o modelo “social-liberal” é o mais adequado para o Brasil, e aproveita para elogiar FHC e até Lula:
O debate da desigualdade ganhará força nas eleições? Esse tema sempre esteve associado mais ao PT…
Sim, o PT fez muita coisa, Fernando Henrique também, houve continuidade. Mas, ao mesmo tempo, houve com o PT uma política de dar enormes subsídios, vantagens para os mais ricos, a chamada bolsa empresário. Sempre ouvi Pedro Malan repetir que a raiva da pobreza e da má distribuição de renda não é monopólio de ninguém. O modelo social-liberal, que foi o do Fernando Henrique, ainda me parece o melhor caminho. Precisamos de um pêndulo político mais curto, e não de uma bola de demolição.
Permita-me discordar totalmente: essa receita é a responsável pela grave doença europeia. O welfare state fracassou, eis o fato. Esse papo de dar uma “face humana” ao capitalismo liberal costuma resultar em mais pobreza e privilégios. Pobre quer oportunidade de trabalho, não paternalismo estatal. E essa receita, por agigantar o governo no processo, gera mecanismos perversos de incentivos.
Entrevistei hoje na RedeTV o empreendedor Alexandre Ostrowiecki, criador do Ranking dos Políticos e autor do livro O Moedor de Pobres, lançado este mês pela LVM. Foi muito esclarecedor o bate-papo, pois fica claro como é preciso atacar a raiz dos problemas: esse peso estatal que acaba recaindo justamente sobre os mais pobres, para alimentar diversos clubinhos de privilegiados.
Arminio não aplaude um modelo que transfere recursos de pobres a ricos, claro, mas ao endossar esse modelo “social-liberal”, acaba ignorando que é em nome do combate às “desigualdades” que muitos recursos vão parar em Brasília. O foco, em minha opinião, deveria ser reduzir a pobreza, já que economia não é jogo de soma zero. E o melhor antídoto contra a miséria se chama liberalismo, ponto.
Outro ponto é ignorar que este governo, com todos os seus defeitos e uma visão mais corporativista do próprio presidente, tem tentado caminhar na direção de Mais Brasil, Menos Brasília, ou seja, de defender a descentralização de recursos, a privatização das estatais, a revogação de normas burocráticas, a criação de marcos legais importantes etc. Arminio parece comparar Dilma com Bolsonaro de forma totalmente absurda, e ainda poupando Lula, o criador e fiador de Dilma como presidente:
A conclusão inescapável é que as elites, com exceções, têm sido chapa-branca, curto-prazistas, oportunistas, na verdade um obstáculo ao desenvolvimento do País. Parte dessa “elite” abraçou a Dilma e o Bolsonaro. Ambos tiveram, até um determinado momento, apoio substancial das elites empresariais. E isso casa com o que parece ser uma obsessão suicida de voltar a um modelo de economia fechada, com subsídios abundantes, pouco respeito à previsibilidade, ao equilíbrio macroeconômico e à desigualdade. É como se a gente não aprendesse.
Bolsonaro, com seu Posto Ipiranga Paulo Guedes, não está falando e fechamento da economia, subsídios estatais, seleção de campões nacionais, bolsa empresário ou algo do tipo. Ao contrário: esse governo declarou guerra a vários dos tais clubinhos de privilegiados, como ONGs ambientalistas, artistas poderosos, empreiteiras corruptas, mídia mainstream etc. Por isso, aliás, apanha tanto dessa patota.
Arminio tem bons pontos sobre alguns problemas brasileiros, mas na prática, sua visão parece mais uma defesa partidária do ex-chefe tucano. O governo FHC teve acertos importantes, mas também inúmeros erros, justamente por conta dessa visão “social”. O intelectual esquerdista nunca abandonou totalmente o presidente. Não é por acaso que ele vive dando um jeito de aliviar a barra de Lula. Assim como o próprio Arminio nessa entrevista.
O Brasil precisa de liberalismo, de choque de capitalismo. A esquerda tenta monopolizar os fins nobres, as preocupações com os mais pobres, mas suas receitas não trazem as soluções concretas. E vale lembrar que nem tudo é economia: na área de valores morais e costumes, a esquerda “progressista” tem causado enorme estrago com suas ideologias, como a política identitária e o feminismo radical. Sobre esses pontos, Arminio nada tem a dizer; no fundo, acaba chancelando a agenda esquerdista. O Brasil precisa, enfim, de um liberalismo com viés mais conservador. Os tucanos não concordam, e por isso são, via de regra, parte do problema, não da solução.
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal