”No Brasil já se vê sinais crescentes de cidadania e questionamentos antes impensados. Isso num ano de eleições gerais é extremamente saudável e amadurecedor”, escreve Onofre Ribeiro
31/01/2022 06:35
Mundo que entrou no ano de 2020 não é o mesmo que entrou em 2022
Está bem claro que o mundo que entrou no ano de 2020 não é o mesmo que entrou em 2022. As mudanças e transformações que ocorreram nesses dois últimos anos são merecedores de muita atenção.
Elas passam pelos campos da saúde pública, da economia geral, da política geral, dos comportamentos individuais e coletivos, pela composição do Estado, pelo comportamento da política e dos políticos. Colocou em cheque as religiões, a as cidades, o comércio, o entretenimento, o turismo, a educação pública e a privada.
Os sistemas de transportes. Os sistemas produtivos industriais. Os shopping centers que foram fechados à força em 2020. O uso obrigatório das máscaras.
O fechamento das escolas e das universidades. O fechamento do comércio. A quase paralisação dos transportes urbanos. As profundas modificações no sistema de alimentação familiar doméstico. A noção de alimentação saudável. A profunda revisão do consumismo anterior. A simplificação do modo de viver, caminhando pro minimalismo.
O sentido das responsabilidades familiares e domésticas, indo das relações entre parentes e até com os animais domésticos.
A revisão nas tarefas domésticas, tipo quem faz o que? E tem muito mais coisas, como por exemplo, a noção de fazer a própria comida e de se alimentar em casa.
A experiência de trabalhar em casa e deixar de lado roupas, maquiagem, penteados, sapatos, saltos altos, automóveis, transportes coletivos, etc.
Claro que são mais os itens transformados. Citei esses porque são os que mais aparecem diante dos nossos olhos.
Tudo isso desagua em 2022, seguramente o ano em que a pandemia perderá a força e a vida retornará ao leito do viver. Mas voltará como? Um item a considerar é que o olhar coletivo saiu no mundo inteiro da alienação paralítica. Na década de 1960 os franceses tinham uma expressão pra essa leniência: o “laissez-faire”.
No Brasil o futebol, a cerveja, as telenovelas e as religiões comerciais tomaram conta da consciência nacional. Produziram um dos povos mais alienados do planeta.
Mas nesse fim de pandemia em 2022 já se vê no mundo inteiro a coletividade se movimentando em favor do seus interesses. Começam pelo questionamento do papel do Estado. Não importa o regime, se é monárquico, parlamentarista, presidencialista ou ditatorial.
No Brasil já se vê sinais crescentes de cidadania e questionamentos antes impensados. Isso num ano de eleições gerais é extremamente saudável e amadurecedor.
Só nos resta saber se essa massa coletiva será capaz de produzir mudanças na escala necessária na política e na gestão pública. E num segundo momento, substituir velhas forças coletivas e políticas por gente capaz de inovar por cidadania e não por interesses não-republicanos.
Pior. Chance transformadora como essa talvez demore muito pra se repetir.
Por Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.