Opinião – Pirâmides financeiras: o golpe está aí, cai quem quer

Uma hora é avestruz, depois boi gordo, passando para créditos de internet ou moedas digitais, principalmente Bitcoin. Infelizmente, obviamente esses esquemas não se sustentam. Escreve Hugo Eduardo Meza Pinto

20/07/2022 06:30

”Dizem que há três coisas que movimentam o ser humano: a fé, o medo e a ganância. Uma pirâmide financeira reúne esses três elementos”

Foto: Rodolfo Buhrer

Em tempos de crise aparecem com maior frequência propostas miraculosas de enriquecimento rápido e de dinheiro fácil. Quem propõe, se aproveita da situação e da necessidade da maioria das pessoas endividadas. Quem aceita, nega um dos princípios básicos da economia traduzidos pela célebre frase “não existe almoço de graça”. Nunca na história da humanidade foi fácil conseguir dinheiro e não seria agora, em tempos de crise.

Existem várias formas de ludibriar as pessoas, uma das mais conhecidas denomina-se pirâmide financeira. Na década de 1920, um migrante italiano, chamado Charles Ponzi, arrecadou nos Estados Unidos aproximadamente 20 milhões de dólares – na época uma fortuna sem precedentes – de pessoas interessadas num modelo de negócios que prometia lucros altos através da compra de selos postais.

Primeiramente, Ponzi convenceu amigos e parceiros a investir no seu negócio oferecendo um retorno de 50% num investimento de 45 dias. Quem “investia” inicialmente obtinha o prometido no tempo estimado. Parecia que a engenhoca financeira dava certo, ninguém queria saber do que precisamente se tratava o investimento, todos só queriam os ganhos. Ponzi começou a ficar rico e os investidores que acreditaram inicialmente também. A histeria coletiva cresceu e Ponzi começou a expandir o negócio. Porém, o pagamento dos ganhos oferecidos por ele não se sustentaram por muito tempo. As pessoas pararam de receber o prometido e o esquema fracassou. Posteriormente, Ponzi se declarou em bancarrota e chegou a ser preso pelo esquema fraudulento. Após pagar fiança foi liberado.

A fraude por ele inventada, denominada de “esquema Ponzi”, é inviável porque não se trata de nenhum tipo de investimento, é simplesmente o pagamento de ganhos com a entrada de novos investidores. Ou seja, quem já está no esquema é remunerado com o aporte de quem entra. Quando o número de novos participantes cai, o esquema se desmorona como uma pirâmide feita de cartas de baralho empilhadas. Ponzi morreu, mas seu esquema perdura até hoje. Avestruz, boi, créditos de internet, criptomoedas, não importa qual seja o “investimento” a ser feito, o esquema sempre é o mesmo e se aproveita da ganância e da necessidade das pessoas.

Alguns pontos importantes ajudam a identificar uma pirâmide financeira. Normalmente, é oferecida uma chance de entrar num “investimento” que remunera a uma taxa fora de qualquer referência de mercado. Tem de 1% ao dia, 30% ao mês, 100% em 3 meses, sempre é superior ao pago pelo sistema financeiro tradicional.

Outro ponto comum é o caráter confuso da proposta. Nem sempre quem oferece consegue explicar o que é o negócio. Uma hora é avestruz, depois boi gordo, passando para créditos de internet ou moedas digitais, principalmente Bitcoin. Infelizmente, obviamente esses esquemas não se sustentam. Dizem que há três coisas que movimentam o ser humano: a fé, o medo e a ganância. Uma pirâmide financeira reúne esses três elementos. As pessoas que entram nela têm fé que vão ficar ricas, têm medo de perder a chance e são gananciosas. É preciso ter muito cuidado com o dinheiro e ficar sempre atento a esses falsos negócios.

 

 

 

 

 

Por Hugo Eduardo Meza Pinto é economista, professor da Estácio Curitiba, e proprietário da Amauta economia criativa.