Opinião – Boas notícias à vista

Novos custos foram criados com o reajuste temporário do Auxílio Brasil para R$ 600, entretanto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a política fiscal continuará sob controle. Escreve Carlos Thadeu de Freitas Gomes

23/08/2022 16:38

”Mesmo com gastos para assistência da população, dívida pública está recuando em proporção ao PIB desde setembro de 2021”

Notas de real. Articulista afirma que atividade econômica vem se recuperando principalmente pelo avanço dos serviços, que apresentaram alta de 8,8% no 1º semestre de 2022.

O ano de 2022 tem apresentado vários desafios para o Brasil e o mundo, principalmente a inflação alta, o que culminou na necessidade de aumentar os juros enquanto a economia mundial ainda está em recuperação da pandemia. No nosso caso, o Bacen (Banco Central) agiu de forma rápida e eficiente para ancorar o nível inflacionário, portanto o país terá boas notícias pela frente.

O Brasil registrou deflação em julho de -0,68%, o maior recuo observado na série histórica, e depois da taxa alcançar +0,67% em junho. Também foi a primeira taxa negativa do IPCA desde maio de 2020 (-0,38%).

Os países avançados também estão tendo que lidar com inflação pressionada. Tanto que o nível de preços nos Estados Unidos já superou o do Brasil em 2022. Enquanto a inflação ao consumidor norte-americano acumula alta de 5,31% de janeiro a julho, no Brasil ela chegou a 4,77% no mesmo período.

Os melhores resultados dos preços no Brasil devem-se muito ao movimento mais rápido de aperto monetário do Bacen.  A Selic aumentou mais de 10 pontos base em um ano, e próxima a 13,75% ao ano é o maior patamar desde janeiro de 2017. E a autoridade monetária indicou haver possiblidade de novo aumento para 14% ao ano. Os movimentos do governo para conter os preços dos combustíveis, porém, também motivaram a desaceleração do IPCA, e tornaram ainda mais provável que os juros básicos estejam próximos do ápice.

A taxa de desemprego está entre os dados econômicos positivos, a desocupação vem se reduzindo desde o início de 2021, e alcançou 9,3% no 2º trimestre desse ano, o menor nível desde o final de 2015. Além disso, a atividade econômica vem se recuperando principalmente pelo avanço dos serviços, que apresentaram alta de 8,8% no 1º semestre de 2022.

Não à toa, as estimativas para o crescimento do PIB estão sendo reajustadas para cima progressivamente, com probabilidade cada vez maior de o avanço superar 2% este ano. Muitos acreditavam que o Brasil ia ter recessão em 2022. Essa discrepância entre as previsões e os dados divulgados indica a dificuldade do mercado nos exercícios preditivos, e ainda não ter incorporado dados de investimento e de reformas microeconômicas dos últimos anos em seus modelos. O Bank of America foi uma das instituições que elevou significativamente a previsão de crescimento do PIB brasileiro neste ano, de 1,5% para 2,5%.

Mais importante do que a melhora das contas nacionais, são as contas fiscais mais favoráveis, resultados difíceis de serem alcançados tão rapidamente. Mesmo com os gastos necessários para assistência da população durante a pandemia, a dívida pública está recuando em proporção ao PIB desde setembro de 2021. A proporção de 78,2% do PIB em maio desse ano é o menor nível desde março de 2020, antes da decretação da pandemia –fato conquistado com medidas como postergação dos precatórios e congelamento dos salários de servidores públicos.

Novos custos foram criados com o reajuste temporário do Auxílio Brasil para R$ 600, entretanto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a política fiscal continuará sob controle. O planejado é financiar esse valor extra tributando os dividendos, produzindo maior receita para o governo com os investimentos principalmente dos mais ricos.

 

 

 

 

Por Carlos Thadeu de Freitas Gomes, 73 anos, é economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Foi presidente do Conselho de Administração do BNDES e diretor do BNDES de 2017 a 2019, diretor do Banco Central (1986-1988) e da Petrobras (1990-1992)