Agora vão ter de engolir Mercadante, Mantega e companhia. Lula ainda nem apresentou o seu Posto Ipiranga, mas já quer um cheque em branco para gastar como se não houvesse amanhã. Escreve Rodrigo Constantino
10/11/2022 09:51
”Para a turma petista, não há mesmo (amanhã). Eles vivem apenas o presente, o hoje, o aqui e agora”
Em minha coluna nesta quarta, usei um trecho de uma carta de um dos maiores gestores do país para mostrar que a ficha já está caindo em relação ao verdadeiro Lula, bem diferente daquele pintado pela velha imprensa borracheira.
Hoje, vejo na coluna de Lauro Jardim que a Faria Lima estaria de “mau humor” com o petista:
A Faria Lima foi dormir ontem de mau humor com Lula. A causa mais evidente foi a entrevista coletiva dada por Lula no início da noite, em Brasília. Nela, entre outras coisas, diz o seguinte:
— Nós não podemos ficar chorando: ‘ah, vai gastar’. Eu quero dizer o seguinte: muita coisa que as pessoas falam que é gasto eu acho que é investimento. A saúde é investimento, investimento numa pessoa pra ela não ficar doente. Farmácia popular é investimento pra cuidar da vida das pessoas. Investir na educação não é gasto, é investimento. Então, você precisa mudar algumas nomenclaturas, porque tudo que a gente quer fazer é gasto, é gasto, é gasto. Pra quê? Pra guardar dinheiro pra pagar juros aos banqueiros? Não. Nós precisamos ter uma divida social, tem uma divida social histórica de 500 anos com o povo pobre e nós, como já fizemos uma vez, vamos começar a atacá-la.
Segundo Lauro Jardim, o trecho de sua entrevista reproduzido acima foi recortado e o vídeo circulou até não poder mais entre os grupos de WhastApp de executivos do mercado financeiro.
Os comentários eram sempre em tom de preocupação, decepção e ironia. Um deles: “Dormimos com Geraldo (Alckmin) e acordamos com Aloizio (Mercadante)”. Outro, desta vez em relação ao mistério sobre o novo ministro da Fazenda: “Estão fazendo o orçamento da empresa, sem diretor financeiro nomeado”.
O horror do mercado financeiro tem nome e sobrenome: a previsão de um gasto extra-teto de R$ 700 bilhões (ao longo de quatro anos) para o Bolsa Família que consta na PEC da Transição.
Luis Stuhlberger, da Verde Asset, por exemplo, escreveu aos seus investidores dias atrás que “a tal ‘PEC da Transição’ está se tornando (mais um) trem da alegria de crescimento dos gastos descontrolado, e a mídia já fala de mais de duzentos bilhões de gastos, algo completamente descabido, para falar o mínimo. Essa espécie de ‘la garantia soy yo’ periga ter vida bastante curta se não for seguida de decisões e comportamentos que a corroborem”.
No entorno de Lula, há um consenso de que Lula não se elegeu “para fazer as vontades dos bancos”, na definição de um deles. E “vai não vai deixar os programas sociais à míngua”. como diz outro assessor do presidente.
Quando leio esse tipo de coisa, vem um misto de espanto com comiseração. Como pode gente tão bem sucedida, rica, refinada, ainda cair em ladainhas tão bobocas?! O sujeito é multimilionário, tem informação do mundo todo, analistas que ganham fortunas, e mesmo assim acredita no Lula moderado inventado pelo Globo?!
Acharam mesmo que haveria uma gestão responsável do ponto de vista fiscal, com a turma do PT? Acreditaram de fato que a “frente ampla” era outra coisa além de um agrupamento de chacais e hienas sedentos pelo butim da coisa pública?
Por ressentimentos pessoais, tucanos demonizaram Paulo Guedes. E agora vão ter de engolir Mercadante, Mantega e companhia. Lula ainda nem apresentou o seu Posto Ipiranga, mas já quer um cheque em branco para gastar como se não houvesse amanhã. Para a turma petista, não há mesmo. Eles vivem apenas o presente, o hoje, o aqui e agora. São como piratas numa pilhagem. Nunca foram capazes de construir nada sustentável, pois o parasita não se importa com a saúde do hospedeiro.
Aviso aos tucanos do mercado: com esse pessoal que vocês ajudaram a recolocar no poder, o Brasil não corre o menor risco de dar certo!
Por Rodrigo Constantino, Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.