Opinião – Curto-circuito

Dez parlamentares silenciados, expulsos do palanque, do púlpito digital. E Arthur Lira não diz nada, não faz nada. Seu tempo e sua energia estão voltados para sua reeleição como presidente da Câmara. Escreve Luís Ernesto Lacombe

14/12/2022 05:54

“Não quer saber de cobranças, do povo nas ruas (…) quem vai tomar uma atitude?”

O ministro Alexandre de Moraes, do STF. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

O que incomoda mais: o silêncio do Arthur Lira ou os aplausos dos que se acham defensores da democracia? Resolveram também que as leis não valem nada, cada um do seu jeito, endossando e incentivando os abusos do Alexandre de Moraes. Rodrigo Pacheco já entregou o Senado. Lira entrega de vez a Câmara. Quem vai tomar uma atitude?

Xandão decidiu que não tem mais essa história de imunidade parlamentar. E já faz tempo. Inventou de tudo para prender Daniel Silveira, rasgou um monte de leis, picotou, trucidou. E a Câmara dos Deputados disse: “tudo bem”. O plenário do STF disse: “estamos de acordo”. O presidente do Senado disse: “não há nada errado”. Assim, deixou de ter força o artigo 53 da Constituição, que afirma que deputados e senadores são invioláveis por quaisquer palavras. Quaisquer? Não é todo parlamentar que pode sair por aí falando.

Alexandre de Moraes vive em curto-circuito permanente. Sua voltagem é 220, o número de outro artigo da Constituição que ele resolveu desarmar. A chave no quadro foi para off, e pronto. Não tem mais essa história de que não haverá censura de espécie alguma. E, para matar a democracia sem dar chance de defesa à vítima, instaura-se a censura prévia.

Já são dez parlamentares em exercício de mandato ou eleitos censurados: Daniel Silveira, Otoni de Paula, Carla Zambelli, Nikolas Ferreira, Coronel Tadeu, José Medeiros, Major Vítor Hugo, Gustavo Gayer, Bia Kicis e Cabo Junio Amaral. Foram banidos das redes sociais. E, se os representantes do povo estão sendo calados, a mordaça está sendo colocada, no fim das contas, em quem? Também em todos os que votaram neles em 2 de outubro: quase 5,5 milhões de pessoas.

A derrubada de perfis em redes sociais atinge sem cerimônia não só os parlamentares, mas também partidos políticos, jornalistas, juristas, artistas, empresários, empresas… Basta falar o que o Alexandre não quer ouvir. E ele não perde tempo mandando apagar apenas o conteúdo que considera “fora da lei”, o conteúdo específico, com explicações claras e chance para recurso… Ordenamento jurídico? Foi para o espaço.

Com Alexandre não tem papo, não tem diálogo, possibilidade de questionamento. O negócio dele é calar, é não querer ouvir quem não pensa como ele. Somem as redes sociais, todas as publicações, as antigas, as atuais… E as manifestações futuras são impedidas. Censura e censura prévia engatilhadas e disparadas.

Dez parlamentares silenciados, expulsos das praças públicas modernas, do palanque, do púlpito digital. E Arthur Lira não diz nada, não faz nada. Seu tempo e sua energia estão voltados para sua reeleição como presidente da Câmara. Não quer saber de cobranças, do povo nas ruas. A liberdade vai pelo ralo, e há gente que aplaude, que acha mesmo que rasgar as leis é defender a democracia. Repito a pergunta do início: quem vai tomar uma atitude?

 

 

 

 

Por Luís Ernesto Lacombe é jornalista e escritor. Por três anos, ficou perdido em faculdades como Estatística, Informática e Psicologia, e em cursos de extensão em administração e marketing. Não estava feliz. Resolveu dar uma guinada na vida e estudar jornalismo. Trabalha desde 1988 em TV, onde cobriu de guerras e eleições a desfiles de escola de samba e competições esportivas. Passou pela Band, Manchete, Globo, Globo News, Sport TV e atualmente está na Rede TV.

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