Opinião – Campos Neto ergue bandeira da paz, mas deveria ter cuidado com Lula

Seria importante o lado certo nessa briga se posicionar com firmeza para deixar bem claro que a deterioração econômica que virá será unicamente culpa do Poder Executivo. Escreve Rodrigo Constantino.

 

15/02/2023 08:18

“Lula não vai ser “persuadido” por bons argumentos e virar um fiscalista da noite para o dia”

Imagem ilustrativa/reprodução.

Durante a entrevista ao programa “Roda Viva”, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez acenos ao governo Lula e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Disse que fará tudo o que estiver ao seu alcance para aproximar o BC da gestão petista, depois de críticas recorrentes de Lula e aliados ao Banco Central e a atual taxa de juros do país, de 13,75%.

Campos Neto também fez referência ao “esforço” do Executivo para arquitetar uma nova regra fiscal que substituirá o teto de gastos, dizendo que ele deve trazer resultados positivos. O dirigente, no entanto, foi enfático ao dizer que não concorda com uma mudança da meta da inflação neste momento.

“Se mudar a meta, vai ter o efeito contrário. O mercado vai pedir um prêmio de risco maior ainda. O que vai acontecer é o efeito contrário. Em vez de ganhar flexibilidade, vai acabar perdendo flexibilidade. Não existe ganho de credibilidade aumentando a meta”, disse Campos Neto.

“Os juros são determinados pelo mercado, eu determino um pedaço dos juros. Para isso se propagar pela curva, é preciso ter credibilidade, e a credibilidade não se ganha simplesmente porque tem uma vontade de cair os juros”, explicou o presidente do Banco Central.

Ele rebateu acusações petistas de partidarismo também: “Nada é uma mensagem política. É meramente uma linguagem técnica. Em nenhum momento foi desviado nada para fazer nenhum tipo de menção ou tomar qualquer tipo de posição política”.

Sobre a falsa dicotomia entre meta de inflação e meta social, Campos Neto desenhou para os leigos: “A nossa agenda toda do Banco Central é (pensando) no social. Então, a gente acredita que é possível fazer fiscal junto com o bem-estar social. Mas a gente acredita que é muito difícil ter bem-estar social e inflação descontrolada porque a inflação é um imposto que afeta muito a classe média baixa”.

O discurso de Campos Neto é técnico, correto e sua postura é moderada, de aceno e contemporização. Mas ele deveria tomar cuidado com Lula e o PT, pois a crença de que falta apenas conhecimento sobre o tema me parece um tanto ingênua.

Estamos diante de uma agenda nefasta, e isso precisa ficar claro. Lula vai precisar usar Campos Neto como bode expiatório pois seu governo não terá responsabilidade fiscal. Seu projeto é de poder e precisa contemplar companheiros em demasia na divisão do butim.

“Estou disponível sempre para conversar, não só com o presidente, mas com todos os ministros. Quero explicar a agenda do Banco Central e quero trabalhar em harmonia. O ambiente colaborativo é o melhor ambiente para a sociedade, não só para o Banco Central”, disse Campos Neto. Mas essa parece uma visão otimista demais, quase ingênua.

Lula não vai ser “persuadido” por bons argumentos e virar um fiscalista da noite para o dia. Na guerra de narrativas, seria importante o lado certo nessa briga se posicionar com firmeza para deixar bem claro que a deterioração econômica que virá será unicamente culpa do Poder Executivo.

 

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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