Opinião – PT chama a Lava Jato de quadrilha – eles nos pegaram!

Os mocinhos injustiçados pela quadrilha não fizeram nada de mal. Eles só amavam demais sítios, triplex, refinarias, navios-sondas, pedágios, estádios da Copa, malas de dinheiro e contas no exterior. Escreve Deltan Dallagnol.

17/02/2023 09:15

“Ontem, Lula disse que Dirceu é “agente e militante político da maior qualidade”. E as condenações por corrupção não importam?”

Manifestação em apoio à Operação Lava Jato, em Curitiba, ocorrida em 2016. Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Ontem o PT divulgou uma resolução que chama a Lava Jato de quadrilha. Vou contar a história dessa quadrilha por inteiro. Ela atrapalhou tudo: ela investigou, condenou e desmanchou o maior esquema de corrupção da história do Brasil.

A quadrilha errou feio. Foi o primeiro caso de uma quadrilha de vilões que devolveu 25 bilhões de reais ao povo brasileiro. Isso é um absurdo. E com quem estava esse dinheiro? Com um grupo de mocinhos bem-intencionados, do bem, que dizia “bom dia a todes”.

Os mocinhos injustiçados pela quadrilha não fizeram nada de mal. Eles só amavam demais sítios, triplex, refinarias, navios-sondas, pedágios, estádios da Copa, joias, bolsas de luxo, malas de dinheiro e contas no exterior.

Como os mocinhos vitimizados pela Lava Jato pagavam tudo isso? Com o dinheiro dos “amigos”. Certamente nada era deles. Os recursos vinham de toda uma população brasileira que vivia num país sem fome, sem miséria e onde tudo funcionava.

Somos gratos, aliás, a Fernando Haddad por ter esclarecido na última quarta-feira que entre 2003 e 2010 não havia mais fome no país, nem criança no sinaleiro. Desmentiu as informações certamente falsas da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) de que havia cerca de 11 milhões de brasileiros com fome em 2009. Essa pesquisa só pode ter sido encomendada pela CIA.

Os mocinhos criminalizados pela Lava Jato pagavam seu luxo com o dinheiro legítimo que vinha do ouro negro, o petróleo, uma riqueza inesgotável. Eles apenas se reuniram em um grupo de pessoas que fez valer para si, de verdade, o slogan “o petróleo é nosso”.

Naquela época, estava tudo bem no reino do Brasil. No final de semana chovia cerveja, todo mundo comia picanha e era feliz. Até que um dia policiais, procuradores e juízes inescrupulosos chegaram cheios de suas leis e acusaram esses pobres inocentes de corrupção.

Pior do que isso, os vilões queriam que a lei valesse pra todes! Que absurde! Essa quadrilha da tal da Lava Jato ainda inventou contas no exterior com centenas de milhões de dólares e foi prendendo os mocinhos que antes eram felizes em suas farras de guardanapos.

Foram tempos sombrios. A quadrilha da Lava Jato foi a primeira da história a roubar de políticos e empreiteiros inocentes para dar ao Brasil mais de 25 bilhões de reais, destruindo a economia – ou as economias – que aqueles políticos e empreiteiros tinham feito ao longo de sua jornada ilibada em honestos contratos públicos.

O PT segue contando e querendo que o Brasil acredite nessa história para boi dormir – e tem muito do seu gado que acredita. Nesta quinta, Lula afirmou que o PT “tem que brigar para construir outra narrativa na sociedade brasileira”. Eles seguem querendo enganar as pessoas e mudar a verdade.

No palanque da festa de aniversário do PT na segunda-feira estava José Dirceu como um dos convidados de honra. Condenado no Mensalão e na Lava Jato, ninguém alega que não há provas de corrupção ou lavagem de dinheiro contra ele – salvo, talvez, seus advogados -, ainda que a palavra final sempre caiba à Justiça.

Mesmo assim, saudado pela presidente do partido, foi aplaudido com entusiasmo. Houve fila para fotos. Ontem, Lula disse que Dirceu é “agente e militante político da maior qualidade”. E as condenações por corrupção não importam?

A atitude do PT mostra sua hipocrisia: a luta pela impunidade das estrelas petistas nunca foi uma questão de inocência ou de direitos humanos. Foi uma defesa consciente de mecanismos criminosos para aumentar seu poder e viabilizar seu projeto hegemônico.

Além disso, é evidente que a luta do PT não é pelo Estado de Direito. As provas de corrupção e enriquecimento pessoal com dinheiro público não são um problema se o partido foi beneficiado e fortalecido. Na lógica socialista do PT, vale-tudo.

Do mesmo modo, o PT admite a injeção de bilhões em propinas nas eleições para fraudar a vontade popular nas urnas, desde que seja em favor do socialismo. Em vez de mudar o software brasileiro de “democracia” para “autoritarismo” às claras, o PT hackeou o software “democracia”, corrompeu-o, para garantir sua perpetuação no poder. De hacker, aliás, o PT entende bem.

O projeto socialista não é democrático, mas é sofisticado, o que deve causar maior preocupação. Não é à toa que Lula apoia as ditaduras de Venezuela e Cuba. O projeto petista é claramente autoritário. Só não vê quem não quer ver.

Do outro lado, nos processos judiciais contra a corrupção, estiveram vários homens e mulheres que trabalharam duro para desvendar esquemas de corrupção que matavam pessoas esperando em filas de hospitais e roubavam sonhos de crianças sem acesso à educação.

Muitos colegas no Ministério Público e na Polícia, técnicos concursados, lutaram pela justiça e pelo fim da impunidade. Lutaram para que o seu dinheiro fosse respeitado. Muitos deles são pais e mães que lutaram por seus filhos. Estou falando de pessoas de diferentes visões de mundo e ideologias, unidas por justiça e um país melhor.

Agora, essa equipe de centenas de homens e mulheres da lei é chamada de quadrilha. Lula, com o megafone de presidente que amplifica sua voz, seguido de seu partido e aliados em diferentes setores, ataca e humilha repetidamente quem apenas cumpriu seu dever.

Gostaria de poder dizer que esse delírio do mundo da imaginação do PT é inofensivo. Contudo, com o governo em suas mãos, o PT trabalha para transformar sua imaginação conspiratória em crença coletiva.

Para isso, o PT criou um ministério da verdade na Secretaria de Comunicação e na advocacia pública para ajudá-lo a reescrever a história. Contudo, não foi só isso. O governo está alterando a lei das estatais para injetar fortunas nas mídias e influenciá-las.

Antes, Lula falava em regulação da mídia – mencionou isso pelo menos nove vezes entre sua soltura e o começo de 2022. Como a ideia não vingou, o PT busca, mais uma vez habilmente, hackear o sistema – desta vez, o sistema de informação – com o poder político e do dinheiro.

A obsessão em mudar o passado da Lava Jato não é gratuita. Faz parte da estratégia de lavar o partido da sujeira moral de seus crimes. O PT tenta apagar o carimbo de quadrilha posto sobre os líderes petistas que saquearam o Brasil e colocar sobre os investigadores e juízes que revelaram os crimes.

O partido segue fielmente a lição de Goebbels, marqueteiro nazista, de que “uma mentira contada mil vezes torna-se verdade“. Constrói um novo imaginário de pernas para o ar, ao seu gosto, em que os valores e a verdade são invertidos. Um mundo em que os bandidos são ovacionados por seus atos e perseguem os policiais.

 

 

 

 

Por Deltan Dallagnol é mestre em Direito pela Harvard Law School e foi o deputado federal mais votado do Paraná em 2022. Trabalhou como procurador por 18 anos, atuando em várias operações no combate a crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. Foi coordenador da operação Lava Jato em Curitiba.