Opinião – A glória do embuste e a superação de Goebbels

Não há mais democracia no Brasil (…) Ela atrofia e fenece num parlamento povoado de negocistas e serviçais da tirania, a cujos péssimos desígnios a brava minoria não consegue pôr freios. Escreve Percival Puggina.

26/04/2023 06:46

“Qual tirania teve uma justificativa diferente? E qual não falou precisamente isso de si mesma e de suas ações?”

E com ela assistiremos o triunfo da mistificação? O sucesso das narrativas? O êxito dos truques? Chegaremos à glória do embuste, à superação de Goebbels, tornando desnecessário mentir repetidamente para criar a verdade, pois lhes bastará mentir… oficialmente?

Se acontecer o mais provável, na perspectiva orientada pelo resultado de ontem, é isso que vai acontecer com a aprovação de uma lei que é uma supuração do sistema que hoje controla o poder no Brasil. Só esse grupo é capaz de espirrar sobre a sociedade a ideia de uma lei de “liberdade de expressão” que a sufoque sob ameaças, interdições e controles estatais.

Não por acaso, o projeto procede de quem sempre sonhou com isso e agora, finalmente, prepara-se para festejar ruidosamente o silêncio a que ficam condenados seus opositores. Lembram-se os leitores? Há poucos meses, na campanha eleitoral, ministros do TSE reprovavam a polarização da campanha? Queriam o quê, santo Deus? Uma disputa eleitoral não polarizada? Posando como semeadores da concórdia impuseram censura a qualquer matéria publicitária ou jornalística que negasse a Lula a virtude, a inocência e a pureza de um anjinho de Rafael Sanzio. Pergunto: não ficou proibido dizer que o candidato cuja vitória foi proclamada era amigo de seus amigos e parceiro de seus parceiros nacionais e internacionais?

O que está em curso no Congresso Nacional era previsível. Não há mais democracia no Brasil porque democracia não coexiste com uma república de juízes. Ela atrofia e fenece num parlamento povoado de negocistas e serviçais da tirania, a cujos péssimos desígnios a brava minoria não consegue pôr freios.  Não há mais democracia porque ela é filha da liberdade. Com a morte de ambos, falece o estado de Direito, pois este não convive com um poder que se descontrola, manda a Constituição às urtigas e diz agir em defesa daquilo que destrói.

Qual tirania teve uma justificativa diferente? E qual não falou precisamente isso de si mesma e de suas ações?

 

 

 

 

Por Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

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