Opinião – Como a gestão política da Petrobras ameaça a estabilidade econômica

A empresa deve pautar suas decisões com base no mercado e na busca pelo equilíbrio financeiro, promovendo uma gestão responsável que não comprometa a estabilidade econômica do país. Escreve Murillo Torelli.

18/05/2023 09:01

“A história da Petrobras demonstra que a politização da empresa pode levar a consequências desastrosas.”

Foto: André Coelho/EFE

A Petrobras, empresa símbolo do Brasil, tem sido palco de gestões marcadas por interesses políticos e falta de transparência. No passado, durante o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), a companhia foi usada como uma ferramenta para promover agendas políticas e esquemas de corrupção que abalaram suas estruturas. Roubos, preços irreais nos combustíveis e refinarias falidas quase levaram a empresa à ruína. Durante os anos de gestão petista, a Petrobras foi transformada em uma plataforma para a promoção de interesses políticos, em vez de ser administrada de acordo com princípios econômicos sólidos. Os escândalos de corrupção, como o caso Lava Jato, revelaram uma rede complexa de propinas e desvios de recursos que envolviam altos funcionários do governo e empresários.

Além disso, o governo PT utilizou a Petrobras para subsidiar artificialmente os preços dos combustíveis, prejudicando a competitividade do mercado e causando sérios desequilíbrios financeiros na empresa. Essa manipulação dos preços não apenas distorceu o mercado, mas também trouxe enormes prejuízos para a estatal, comprometendo sua capacidade de investimento e inovação.

O governo de Michel Temer assumiu o desafiador papel de resgatar a Petrobras e evitar sua completa derrocada. Com medidas de austeridade e a nomeação de uma nova diretoria comprometida com a eficiência e a transparência, a estatal começou a se reerguer. Foram realizadas reformas e investimentos estratégicos que permitiram à empresa recuperar a confiança dos investidores e estabilizar suas finanças.

O retorno da gestão petista à Petrobras é motivo de preocupação para a economia do país. A recente estratégia comercial anunciada pela companhia demonstra um claro direcionamento político em detrimento do equilíbrio de mercado. Sob a justificativa de preços competitivos por polo de venda, a Petrobras introduziu uma política confusa que prioriza o “custo alternativo do cliente” e não divulga uma fórmula específica.

Essa estratégia subjetiva e pouco transparente coloca em risco a estabilidade econômica do Brasil. A redução imediata dos preços dos combustíveis pode parecer positiva para os consumidores, especialmente quando o petróleo e o dólar estão em queda. No entanto, quando enfrentarmos um período de alta, quem arcará com os custos do combustível barato? A Venezuela é um exemplo claro de como a utilização de uma empresa petrolífera para fins políticos pode resultar em fracasso. A interferência governamental na gestão da PDVSA levou ao colapso da indústria petrolífera do país e à escassez de combustíveis, causando sérios danos à economia e à população.

É importante lembrar que o Brasil é um país importador líquido de combustíveis, dependendo de cerca de 25% de sua demanda interna de diesel de importações. Portanto, a paridade de importação internacional é essencial para garantir um suprimento adequado e evitar problemas de escassez.

A liberdade de preços é fundamental para o funcionamento saudável de qualquer indústria, e isso inclui o setor de combustíveis. Ao permitir que as forças do mercado determinem os preços, as empresas têm a flexibilidade necessária para se adaptarem às variações internacionais e às condições locais. Essa liberdade de preços também encoraja a competição e a eficiência, beneficiando os consumidores.

Diante desse contexto, é fundamental que a Petrobras seja gerida de forma técnica, transparente e alheia a interesses políticos. A empresa deve pautar suas decisões com base no mercado e na busca pelo equilíbrio financeiro, promovendo uma gestão responsável que não comprometa a estabilidade econômica do país. A nova estratégia comercial anunciada pela companhia, baseada em critérios subjetivos e sem divulgação de uma fórmula específica, abre espaço para interferências políticas e decisões tomadas com base em interesses partidários, o que preocupa.

Essa falta de transparência e objetividade na definição dos preços pode gerar distorções no mercado, afastar investidores e prejudicar a confiança dos consumidores. Além disso, ao desconsiderar as variações internacionais de preços, a Petrobras corre o risco de repetir os erros do passado, comprometendo sua capacidade de investir em infraestrutura, modernização e pesquisa. A história da Petrobras demonstra que a politização da empresa pode levar a consequências desastrosas. É essencial aprender com os erros do passado e assegurar que a estatal seja protegida de ingerências políticas, garantindo sua eficiência e contribuição para o desenvolvimento do Brasil.

 

 

 

 

Por Murillo Torelli é professor de contabilidade financeira e tributária no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

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