Opinião – Os quatro tipos de desempregos

Os quatro tipos de desemprego estão presentes e não há solução simplista como sugerem governantes, políticos e, especialmente, candidatos à caça de votos. Escreve José Pio Martins.

15/08/2023 09:40

“Programas sociais de transferência de renda devem existir, mas o melhor programa social é a geração de empregos”

Taxa de desemprego no Brasil está em 8,3%, segundo a estatística mais recente do IBGE, referente ao trimestre móvel encerrado em outubro de 2022. Foto: Marcelo Andrade

Em economia, um erro primário é confundir recurso com riqueza. Recurso é fator de produção natural (terra e gente); riqueza é o recurso transformado em produto consumível ou para investimento. O Brasil é rico de recurso, mas não é rico de riqueza. Aqui, a natureza é generosa, o território é imenso, as terras são férteis, o clima é bom e os recursos naturais são abundantes.

Quanto ao capital (no sentido de bens e instrumentos de produção), em comparação com o tamanho do território e o tamanho da população, ele é insuficiente para ocupar toda a mão de obra disponível, e essa é uma das razões do desemprego e dos salários médios baixos.

Ocorre que os bens de capital físico de hoje são produtos elaborados ontem, e os bens de capital do futuro serão aumentados pelos bens de capital elaborados no presente. Os bens de capital estão distribuídos na economia em três grandes grupos: a infraestrutura física, a infraestrutura empresarial e a infraestrutura social.

O tamanho do estoque de capital físico, seu estado de conservação e seu grau de modernização tecnológica limitam o quanto pode ser produzido em bens e serviços de consumo à disposição da população. Ademais, também é disso que depende a existência de postos de trabalho para empregar todas as pessoas dispostas a trabalhar.

O Brasil tem muitos problemas sociais para resolver, especialmente a redução da miséria e da pobreza. O desafio é grande; programas sociais de transferência de renda devem existir, mas o melhor programa social é a geração de empregos. A seguir, comento os quatro tipos de desemprego, sobretudo porque cada tipo requer soluções próprias adequadas à sua peculiaridade.

O primeiro tipo é o desemprego keynesiano, explicado por John Maynard Keynes na Grande Depressão de 1930. Neste tipo, a causa é a insuficiência de demanda agregada, que é a soma de consumo das pessoas, consumo do governo, investimentos das empresas, investimento do governo e demanda do resto do mundo. Ou seja, o nível de demanda não requer o emprego de todos os trabalhadores disponíveis para a produção correspondente.

O segundo tipo é o desemprego marxiano, explicado por Karl Marx no período 1850-1870. Neste, há insuficiência de capital físico para ocupar toda a mão de obra disponível. Ou seja, mesmo havendo demanda por bens e serviços, a estrutura de capital produtivo não é capaz de absorver todas as pessoas em condições de trabalhar, e daí decorrem dois efeitos: aumento do desemprego e queda dos salários. Marx dizia que essa situação levaria a um exército industrial de reserva, pois, para cada vaga há vários trabalhadores disponíveis, que pressionam os salários para baixo. Durante a vida de Marx (ele morreu em 1883), a Revolução Industrial não estava consolidada e não havia capital instalado para ocupar toda a mão de obra disponível, inclusive porque a população crescia exponencialmente.

O terceiro tipo é o desemprego tecnológico. Em 1970, o Brasil tinha 46% da população vivendo na zona rural. Hoje, no máximo há 15% dos brasileiros vivendo no campo, em razão das tecnologias e das inovações que elevam a produção com menor emprego de trabalhadores. Nesse caso, é a tecnologia desempregando pessoas.

O quarto tipo é o desemprego fricativo, aquele desemprego normal que existe enquanto as pessoas estão trocando de trabalho ou de profissão. A economia é uma máquina em constante ebulição, de forma que desemprego em torno de 4% da mão de obra disponível resulta dos ajustes normais na produção de bens e serviços.

No Brasil, os quatro tipos de desemprego estão presentes e não há solução simplista como sugerem governantes, políticos e, especialmente, candidatos à caça de votos. Uma discussão livre de interesses partidários deveria começar mapeando como o desemprego geral se divide entre os quatro tipos de desemprego, no mínimo porque as soluções são diferentes para cada tipo.

No meio disso tudo, uma questão é essencial para reduzir o desemprego: a produção nacional tem de crescer; esse é o desafio mais importante na economia e deve ser a prioridade primeira do governo.

 

 

 

 

Por José Pio Martins é economista e professor de Macroeconomia, Microeconomia, Finanças Empresariais e Filosofia, em cursos de graduação e pós-graduação. Foi secretário do Planejamento de Londrina, diretor-geral da Secretaria da Fazenda do Paraná, vice-presidente do Banco do Estado do Paraná e reitor da Universidade Positivo.

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