Opinião – Usina Muttsee

Enquanto este maravilhoso feito acontece lá naquele pequeno e pobre país, aqui neste tão grande e rico Brasil ainda dependemos de chuvas permanentes. Escreve Pedro Valls Veu Rosa.

25/09/2023 09:58

“Qualquer alteração climática mais séria nos conduz aos racionamentos, rodízios etc.”

A Suíça é um pequeno e pobre país encravado no coração da Europa, desprovido de recursos os mais básicos que se possa imaginar. Lá não há riquezas naturais fabulosas, acesso ao mar ou mesmo espaço – falamos de um país de vales cercados por montanhas geladas.

Pois bem: buscando produzir energia farta e barata – e bem assim prevenir eventuais problemas de abastecimento – construiu-se no lago Mutt uma das maiores e mais fascinantes usinas hidrelétricas jamais vistas, do tipo reversível.

Conforme divulgado pela administração suíça esta usina, com potência de 1.000 MW, e cuja barragem mede 1.025 metros, é a mais potente de seu tipo no país – segundo consta, há outras 15 em funcionamento. Custou US$ 2,1 bilhões, e seu lago armazena 25 milhões de metros cúbicos de água.

Mas o que seria uma “usina reversível”? Com a palavra os próprios suíços:

“Tais usinas possuem duas represas, uma na montanha e outra bem mais abaixo. A água do lado superior é conduzida para baixo sob pressão através das turbinas que geram a eletricidade. Em tempos de baixo consumo de energia a água é bombeada de volta para o lago da montanha e lá represada”.

Esclareceu-se, finalmente, que as “usinas hidroelétricas reversíveis têm um papel importante para garantir um suprimento estável de eletricidade em períodos de falta de água”.

Enquanto este maravilhoso feito acontece lá naquele pequeno e pobre país, aqui neste tão grande e rico Brasil ainda dependemos de chuvas permanentes para que as torneiras de nossas casas não sequem!

Dada a quase total falta de investimentos em infraestrutura qualquer alteração climática mais séria nos conduz aos racionamentos, rodízios etc. E eis aí um quadro nacional: não faz muito tempo visitei uma capital banhada pelo rio Amazonas (o maior do planeta em volume) que convivia há anos com a escassez periódica de água potável! Uma cena surrealista, a de um rio tão largo que sua margem oposta quase não se vê, banhando uma cidade sem água!

Escrevo estas linhas em desagravo a São Pedro, eterna e injustamente responsabilizado pelas torneiras secas que nos humilham enquanto habitantes de um país que se pretende minimamente administrado. Afinal, como dizia Heinrich Heine, “é melhor escolher os culpados do que procurá-los”. Coitado de São Pedro!

 

 

 

 

 

Por Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.

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