Opinião – Você está preparado para ter Janja como presidente do Brasil?

Diante da ausência do marido para se submeter a uma cirurgia, Janja viaja pelo Brasil, se reúne com ministros e até “anuncia medidas”. Mas ela pode? Questiona Paulo Polzonoff Jr.

28/09/2023 05:59

“Se eu estiver falando bobagem, contudo, esqueça. Ou interprete este texto todo como uma grande ironia”

Janja, a Evita do Lula. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Lula vai “entrar na faca”, como se dizia antigamente. O doente-em-chefe vai operar o quadril e, para isso, terá de se submeter a uma anestesia geral. Mesmo assim Geraldo Alckmin, vice por direito e viracasaquismo, não assumirá o posto mais alto do Executivo. E, ao que tudo indica, quem vai dar as cartas no Brasil presidido pelo convalescente Lula será a já folclórica primeira-dama Janja.

No país onde prevalece a política do “se colar, colou”, Janja mandando (ou pelo menos pondo as manguinhas de fora) é uma realidade desde o começo do terceiro mandato de Lula. (Terceiro mandado de Lula. Ainda não me conformei com isso). Essa influência de Janja sobre o marido quase octogenário, aliás, foi tema de várias reportagens que mostravam o incômodo do PT e, mais recentemente, do Centrão com a primeira-dama que quer ser mais. Quer ser primeiríssima.

Seduzido pelo canto da sereia de União da Vitória, aparentemente Lula não é mais o grande líder dos trabalhadores que todos acreditaram ter sido um dia. Mesmo lá fora, onde Lula ainda posa de estadista, Janja tem roubado (em se tratando do PT, com trocadilho) a cena. Na reunião do G20, por exemplo, ela deixou as demais primeiras-damas de lado e se pôs sob os holofotes mundiais quase como uma primeira-ministra. Como se tivesse, de fato, a autoridade que nenhuma legislação lhe confere.

E agora, diante da ausência do marido para se submeter a uma cirurgia, Janja viaja pelo Brasil, se reúne com ministros e até “anuncia medidas”. Mas ela pode? A rigor, poder não pode; ou pelo menos não deveria. Mas estamos falando de Lula e do PT. Do Brasil onde Alexandre de Moraes manda prender quem ele quiser. Então na prática a resposta para a sua pergunta é: pode. Simplesmente porque a súcia esquerdista pode tudo.

E o Alckmin?

Vale lembrar que, teoricamente, o Brasil tem um vice-presidente. Um tal de Geraldo Alckmin – já ouviram falar? Mas Alckmin não parece nem um pouco preocupado em ver Janja assumindo a função para a qual ele foi eleito. A função pela qual ele se submeteu à humilhação de se aliar ao ex-inimigo Lula. Pelo contrário, Alckmin parece muito à vontade fazendo figuração nas redes sociais, publicando uma platitude aqui, imitando o Sr. Miyagi ali. Enfim, segue geraldando e cantando e seguindo a canção.

É do Senado, porém, que vêm sinais de que Janja presidente pode não ser apenas um delírio ou uma paranoia à toa. Bem recentemente, ontem ou no máximo anteontem, Rodrigo Pacheco andou fazendo críticas à reeleição. Assim, do nada. Mas e se eu lhe disser que podemos estar diante de uma típica negociação petista em que o fim da reeleição estaria subordinado à aprovação de uma PEC permitindo que esposas se candidatem aos cargos deixados pelos maridos? Sim, é isso mesmo que você está pensando: a Janja é a Evita do Lula.

Claro que nada é tão simples assim. Janja conta com uma rejeição muito forte dentro do partido, sobretudo entre aqueles que são mais lulistas do que petistas. Ela também não agrada o eleitorado que a vê como uma mulher deslumbrada com o luxo e o poder. Nada que uma boa campanha de marketing não seja capaz de mudar. E se Janja contar com o apoio de quem controla o jogo, tanto melhor para ela – e pior para nós.

De qualquer forma, se esse cenário catastrófico (e um pouquinho cômico, vai) se concretizar, lembre-se de que você leu primeiro aqui, pensou que estou ficando louco, foi cuidar da sua vida e acordou em 2026 para ver Janja em primeiro lugar nas pesquisas. Se eu estiver falando bobagem, contudo, esqueça. Ou interprete este texto todo como uma grande ironia.

 

 

 

 

 

Por Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião do Correio da Semana.

Tags: