A única coisa que parece certa é a eleição ir para segundo turno, com a grande chance de Milei disputar com outro candidato ainda não previsível. Escreve Ney Lopes.
04/10/2023 05:56
“O povo reage como em um naufrágo, na busca da bóia de salvação”
Realizou-se o primeiro debate televisivo da atual eleição presidencial da Argentina.
Em 1912, a Argentina era a nona economia, com maior renda por habitante do Mundo, à frente da Dinamarca, Alemanha e França.
Por que a economia Argentina está em crise?
Hoje acumula déficits fiscais, ou seja, gasta mais do que arrecada.
Grande parte desses gastos corresponde a subsídios, como nas contas de luz, água e transportes, serviços muito baratos, se comparados ao Brasil.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina teve baixa de 4,9% no segundo trimestre, na comparação com igual período do ano passado.
A situação atual é fruto de uma combinação de fatos históricos, com foco na dívida externa, e problemas pontuais, que traz efeitos em vários campos da economia argentina.
O cenário é preocupante principalmente ao observarmos outras grandes crises do país, como a de 2001, quando o governo deu um calote de US$ 100 bilhões, mesmo depois do congelamento das poupanças.
Uma luz surgiu em 2022, quando a Argentina chegou a um acordo para renegociar sua dívida com o FMI, tendo acesso a valor equivalente a US$ 45 bilhões.
O acordo foi acompanhado por um plano de reestruturação de longo prazo, visando dar apoio à balança fiscal e reestabelecer a estabilidade econômica.
No entanto, a cenário global desafiador dificultou as possibilidades da Argentina cumprir as metas apresentadas ao FMI.
Consequentemente, as metas já passaram por diversas revisões e são incógnitas para o futuro.
Neste cenário de “agonia econômica”, realizou –se o primeiro debate televisivo da atual eleição presidencial.
O candidato de ultradireita Javie Milei vem liderando várias pesquisas.
A surpresa do processo eleitoral argentino é realmente Milei, não por ser conservador, mas pela revolta popular que atrai candidatos antissistemas, em tempos de crise.
Esta a mesma sensação que tem levado, há décadas, outsiders ao poder na América Latina.
Vejam-se os casos de Abdalá Bucaram no Equador (1996), Hugo Chávez, na Venezuela (1998), Jair Bolsonaro no Brasil (2018), Navid Bukele, em El Salvador, em 2019 e Pedro Castillo no Peru, em 2021.
As consequências são quase sempre desastrosas e significam graves riscos à democracia.
Sobre o resultado do último debate, o jornal “El Clarin” publicou resumo de uma análise, na qual se lê:
“Se o resultado for analisado pela capacidade de transmissão de propostas, a medalha pode ser para Myriam Bregman ou Sergio Massa.
“Se o oportunismo é avaliado para colocar golpes de efeito, lá mostrou habilidade Patrícia Bullrich.
“Se a análise se concentrar na chance de captação de novos votos, Juan Schiaretti falou linguagem popular.
“Se a candidatura for, por outro lado, consolidar apoios já existentes.
“Javier Milei dificilmente perderá a liderança do debate”.
O que se conclui é que o primeiro debate argentino, não alterou o quadro de preferencias eleitorais.
Continua além de 20% o percentual de indecisos.
O povo reage como em um naufrágo, na busca da bóia de salvação.
A única coisa que parece certa é a eleição ir para segundo turno, com a grande chance de Milei disputar com outro candidato ainda não previsível.
Aguardemos!
Por Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – [email protected] – blogdoneylopes.com.br