Opinião – Reavaliando o Papel dos Bancos Centrais. Série Desaprenda Economia

Discrepâncias apontam para uma necessidade de revisão e reavaliação crítica do papel dos Bancos Centrais na economia contemporânea. Escreve Stephen Kanitz.

07/12/2023 09:07

“Comércio e indústria, geralmente operam com uma alavancagem de apenas 67% do capital investido, em vez dos 1200% comuns no setor bancário”

Por que precisamos de bancos centrais ?

Os Bancos Centrais, historicamente concebidos como instrumentos vitais para a estabilidade econômica, são hoje percebidos por alguns como parte integrante dos problemas econômicos contemporâneos.

Originalmente, essas instituições foram estabelecidas com o objetivo de mitigar crises financeiras, fornecendo liquidez e suporte financeiro a bancos que enfrentavam dificuldades temporárias de liquidez.

Historicamente, os depósitos bancários eram frequentemente à vista, enquanto os empréstimos possuíam prazos mais longos (variando entre 60 a 600 dias), resultando em um descompasso no fluxo financeiro.

Este desequilíbrio ficou evidente durante a Crise Knickerbocker nos Estados Unidos em 1907, quando as corridas bancárias levaram à falência de diversas instituições financeiras e culminaram na criação do Sistema da Reserva Federal em 1913, com o intuito de prevenir tais corridas bancárias.

No entanto, a eficácia desses Bancos Centrais em prevenir crises tem sido questionada, particularmente ao se observar eventos históricos significativos.

A Grande Depressão, ocorrida entre 1925 e 1930, é um exemplo notório, onde falências bancárias maciças contribuíram para uma das mais severas crises econômicas da história.

Alguns argumentam que as falhas do Federal Reserve (FED) nesse período tiveram implicações que ultrapassaram o âmbito econômico, influenciando até mesmo o cenário político global, como a eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Outras crises econômicas também lançam dúvidas sobre a eficácia dos Bancos Centrais.

Por exemplo, a Crise da Dívida Latino-Americana na década de 1980, envolvendo diversos países, incluindo o Brasil;

a Crise das Poupanças nos Estados Unidos entre as décadas de 1980 e 1990;

a Crise Financeira Asiática de 1997-1998, que se alastrou por vários países asiáticos;

a Crise Financeira Russa em 1998;

a Crise Econômica Argentina entre 1999 e 2002;

a Crise Financeira Global de 2007-2008, originada nos Estados Unidos;

e a Crise da Dívida Soberana Europeia nos anos 2010.

Estes eventos levantam questões pertinentes sobre a natureza e a função dos Bancos Centrais.

Uma questão que todo economista formado deveria se perguntar  é por que os bancos podem alavancar seu capital em proporções significativamente maiores (12 vezes ou mais) do que outras entidades econômicas, que operam com níveis de alavancagem mais conservadores.

Vide o gráfico da situação das 500 maiores empresas brasileiros, do banco de dados que administro.

Por que bancos conseguem se alavancar 12 vezes seu capital, enquanto o resto da economia , por prudência , alavanca bem menos, 1,67 por exemplo?

Por que capitalistas banqueiros arriscam seu capital 12 a 36 vezes, com o risco de perder tudo com uma queda de 8% a 3% nos depósitos?

Em contraste, outros setores, como comércio e indústria, geralmente operam com uma alavancagem de apenas 67% do capital investido, em vez dos 1200% comuns no setor bancário.

Estas discrepâncias apontam para uma necessidade de revisão e reavaliação crítica do papel dos Bancos Centrais na economia contemporânea, bem como das práticas bancárias.

 

 

 

 

 

Por Stephen Kanitz, é um consultor de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo.

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