Opinião – Esquerda e direita na América Latina

Daqui a pouco descobrem que os soviéticos estavam colocando mísseis, dirigidos para eles, em Cuba. Foi um alvoroço. Fizeram um cerco pelo mar à ilha. Escreve Alfredo da Mota Menezes.

13/12/2023 05:09

“Temos uma divisão interessante entre governos eleitos de esquerda e direita”

Na América Latina, no momento, tem uma divisão interessante entre governos eleitos de esquerda e de direita. São de direita: Argentina, Equador, Paraguai, Uruguai, Guatemala, El Salvador e Costa Rica.

Tem governos de esquerda no México, Venezuela, Brasil, Colômbia (pela primeira vez), Bolívia, Peru, Nicarágua e Cuba. Nunca houve antes isso na história regional.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, começam os arrufos entre os aliados que derrubaram Hitler: EUA e União Soviética. Os americanos defendendo seu modelo de governo e atacando os que tinham base no socialismo.

Falavam que eram comunistas, aliás, a história mostra que não se teve nenhum país realmente com o comunismo como seu governo. Há uma diferença entre comunismo e socialismo.

Eram socialistas querendo ir para o chamado estado ideal que seria o comunismo. Mas nenhum país chegou a isso. Deixando essa prosa de lado e voltando para a América Latina.

No momento da Guerra Fria, os EUA não permitiam, em hipótese alguma, que países abaixo da linha do equador fossem para a esquerda. Não queriam “inimigos”, ou aliados de Moscou naquilo que chamava, e até hoje chamam, de “nosso quintal”.

Não ideias diferentes das suas pela porta do fundo, outro termo usado. A porta do fundo seria a América Latina ou Caribe, América Central e do Sul.

A coisa ficou pior ainda quando Cuba foi para o socialismo. Como os EUA permitiram um país socialista pertinho de casa? Os americanos não ligaram no inicio com Cuba indo para o socialismo. Sabiam que poderiam derrubar, como haviam feito antes em outros lugares do Caribe, o novo governo. Deixaram correr um pouco.

Daqui a pouco descobrem que os soviéticos estavam colocando mísseis, dirigidos para eles, em Cuba. Foi um alvoroço. Fizeram um cerco pelo mar à ilha.

Quase houve um confronto entre os EUA e Rússia em 1962. Encontram um meio termo. Os russos não colocariam misseis na ilha cubana, mas os EUA se comprometiam em não invadir ou derrubar o governo de esquerda dali. Cumpriram o acordo.

Mas, a partir desse fato, os EUA vão criar todos os meios para impedir novas Cubas na área. É o momento das ditaduras militares na região. Encontram nos militares o refúgio da direita para impedir “comunismo” na área. Havia uma escola militar não Panamá, cria dos EUA, para treinar gentes contra governos de esquerda.

Ditaduras espalharam pela região. Com exceção do México, Costa Rica e, interessantemente, da Venezuela, lugares com eleições normais e livres, no restante do continente a coisa esquentou e eleições não eram como deviam ser. Ou simplesmente se perpetuava alguém no poder, quase sempre um militar, no comando do país. Momento de perseguições, mortes, torturas contra quem pensasse diferente dos regimes de direita.

Hoje, depois da debacle do socialismo pelo mundo, incluindo a Rússia, os norte- americanos não estão mais interessados em derrubar governos de esquerda na América Latina.

Que, aliás, é um tipo de esquerda, exceção a Cuba e Nicarágua, que anda de mãos dadas com o capitalismo. Antes nem isso era permitido pelo Big Brother ali de cima.

 

 

 

 

 

Por Alfredo da Mota Menezes é analista político.

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