Opinião – O que esperar do Brasil na presidência do G20

No próximo G20, haverá uma série de eventos paralelos que podem abrir as portas de entrada das oportunidades brasileiras e estreitar relações econômicas. Escreve Fernanda Brandão Martins.

22/01/2024 10:32

“É uma ocasião também para o desenvolvimento de novas perspectivas sobre a questão sustentável”

Imagem Shutterstock.

A presidência do G20 (grupo formado pelas 20 maiores economias) é rotativa entre os membros participantes, como é o caso do Brasil. A cúpula ficou em destaque depois da crise financeira de 2008, que começou nos Estados Unidos e revelou os dilemas colocados pela dependência em relação ao dólar americano ao rapidamente contagiar outras economias.

Antes disso, com o fim do regime Bretton Woods, as decisões fundamentais acerca do sistema financeiro e monetário internacional eram tomadas no âmbito do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). O Grupo dos Vinte se tornou o principal fórum de discussão sobre os temas econômicos e financeiros após a crise de 2008. Esse fenômeno resultou não apenas das dificuldades relacionadas à dependência do dólar, mas também como resultado da emergência de importantes potências econômicas, como os BRICS, buscando maior influência sobre as agendas e processos decisórios da política internacional. Vale destacar que a Organização Mundial do Comércio (OMC) enfrenta desafios desde 2001 ao tentar avançar nas rodadas de negociações, devido às mudanças das clivagens de interesses, além da maior capacidade de os países emergentes de propor as agendas e resistir à pressão dos países desenvolvidos. A Rodada Doha de negociação nunca alcançou um fechamento e apenas acordo marginais menores conseguiram ser firmados de forma plurilateral.

Nesse cenário, há questionamentos sobre a estrutura do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, primordialmente, sobre as cotas de votação, que não refletem a real significância econômica dos países emergentes e super-representa países europeus. Com a crise de 2009, a China ganhou notoriedade ao tornar-se um importante credor internacional e atuar de forma estratégica para estimular a atividade econômica nacional e contribuir para uma queda menor na demanda por importações estrangeiras. Dessa forma, o papel dos países emergentes foi de manter a atividade econômica e a demanda externa elevada, diante do quadro de recessão nos Estados Unidos e na Europa. Além disso, esses países se engajaram num esforço de desdolarização a fim de reduzir a dependência do dólar. Apesar de ser um processo muito incipiente, países em desenvolvimento, principalmente os BRICS, têm trabalhado para a promoção de comércio bilateral em moedas nacionais, feito acordo de swaps cambiais e estabelecidos acordos com a intenção de ampliar o uso das moedas nacionais nas relações econômicas. A China é a protagonista nesse sentido. Com o passar dos anos, a cooperação perdeu o protagonismo pelas instabilidades políticas em alguns países membros e pelo efeito tardio da crise nesses países.

A presidência brasileira do G20 cria a possibilidade de influenciar a agenda da conferência e favorece a discussão de temas considerados importantes pelo Brasil e o alcance de soluções. Após a pandemia, o grande desafio é a retomada do crescimento econômico de forma global diante de um contexto internacional marcado por conflitos armados que afetam negativamente os fluxos de comércio e investimentos internacionais. O Brasil tem a missão de inserir os membros nos diálogos e contribuir para a coordenação de políticas para o alcance de uma estabilidade econômica global efetiva. Além disso, devido à posição de neutralidade e proximidade com a Rússia, a conferência pode se tornar uma ponte para o estabelecimento de diálogos que contribuam para a restauração da paz no continente europeu. Apesar da existência de um mandado do Tribunal Penal Internacional para a prisão de Vladimir Putin, o Brasil tem sinalizado que o presidente russo será convidado para a Conferência em um esforço de tentar promover o diálogo.

Para este ano, a agenda proposta pela presidência brasileira do grupo debaterá sobre as questões da sustentabilidade. Além de dar continuidade ao esforço brasileiro de retomar o protagonismo nos temas ambientais, o objetivo é promover efetiva coordenação entre os países com propostas para a redução efetiva da emissão de gases do efeito estufa que envolvem indagações econômicas estruturais importantes.

No próximo encontro do G20, haverá uma série de eventos paralelos que podem abrir as portas de entrada das oportunidades brasileiras e estreitar relações econômicas com os diversos países participantes. Em termos acadêmicos, os fóruns em paralelos terão o objetivo de demandar os atuais temas que dialoguem com sustentabilidade e a economia. É uma ocasião também para o desenvolvimento de novas perspectivas sobre a questão sustentável que façam sentido tanto no plano ambiental quanto econômico. O Brasil tem um grande potencial relacionado à produção de energia renovável e o desenvolvimento industrial, essas habilidades podem ser desenvolvidas com o impulso promovido pela conferência.

 

 

 

 

Por Fernanda Brandão Martins é coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.

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