Opinião – Violência política: cadeirada em Marçal e novo atentado contra Trump

O populismo de direita é uma resposta a um sistema podre e carcomido, que declarou guerra ao povo e usa a política como instrumento. Escreve Rodrigo Constantino.

17/09/2024 11:54

“Com algum distanciamento, prefiro refletir sobre a essência da política com algum realismo”

Suspeito detido estava calmo e não demostrou emoções, disse xerife de condato| Foto: EFE/Jim Lo Scalzo

A política é uma forma velada de guerra. Muitos liberais e progressistas gostam de sonhar com a política como uma atividade nobre, em que cada candidato apresenta seus projetos e um debate racional toma conta na hora do eleitor decidir. Mas esse é o mito do eleitor racional, de que falava Bryan Caplan. E também o mito do político civilizado, preocupado com a coisa pública, que a Escola das Falhas de Governo já apontou.

Na prática, não é bem assim. Um quer matar o outro, a disputa pelo poder é voraz, os interesses comezinhos predominam e o jogo é bruto. A diplomacia surgiu para tentar impedir a guerra, o estado natural e tribal da humanidade. Não resta dúvidas de que é uma evolução poder parlar em vez de guerrear com seu adversário. A democracia sobrevive onde o tribalismo é domesticado.

Mas a besta humana está sempre à espreita, pronta para assumir o comando. No “debate” da TV Cultura este domingo isso ficou bem claro. Datena acabou dando uma cadeirada em Pablo Marçal. O episódio foi o destaque do dia e só se falou nisso. Alguns justificaram a ação violenta do tucano desequilibrado, já que Marçal “provocou”. Outros admitem que não há espaço para agressão física na política.

Com algum distanciamento, prefiro refletir sobre a essência da política com algum realismo. O fenômeno Marçal já é algo que merece atenção, e poucos tentam ou conseguem explicar. Os políticos profissionais, com seus colegas do “jornalismo profissional”, preferem simplesmente ignorar o que se passa, e torcer o nariz para o estilo de Marçal. Muitos devem, no fundo, ter comemorado a cadeirada de Datena. Afinal, o alvo foi Marçal, odiado pela turma…

Guzzo escreveu um excelente artigo buscando compreender o fenômeno, em que diz: “O que de fato interessa, e praticamente não se discute, é o seguinte: como e por que um cidadão que até três meses não existia no mundo político do Brasil, nunca teve um cargo público na vida, não está num partido de verdade e não conta com um único minuto no programa eleitoral na televisão tornou-se o candidato mais falado à prefeitura da maior, mais rica e mais importante cidade do Brasil. Pablo Marçal, por tudo que ensina a sabedoria concentrada dos analistas políticos brasileiros, não deveria existir. Mas existe”.

O populismo de direita é uma resposta a um sistema podre e carcomido, que declarou guerra ao povo e usa a política como instrumento, com a cumplicidade da velha imprensa. Nossos jornalistas vão sentir saudades de Bolsonaro, basicamente um gentleman! Basta pensar que na bancada de entrevistadores da TV Cultura, que recebe verba do estado de SP, estava a blogueira esquerdista Vera Magalhães e o comunista Leonardo Sakamoto, enquanto entre os candidatos havia o invasor Boulos. E isso todos os atores do teatro político tratam com normalidade!

A resposta a essa encenação é Pablo Marçal, que tira essa gente do sério avacalhando o circo e chamando comunista de comunista. Ele não segue o script da turma, e isso é inaceitável. Guzzo acrescenta:

Há anos o mundo político constrói castelos com suas candidaturas e “engenharias políticas” para ganhar a prefeitura da capital econômica do Brasil. Os jornalistas especializados, e os especialistas ouvidos pelos jornalistas, fazem análises. As mesas redondas explicam por A + B que está acontecendo isso e aquilo. Mas não contavam, nenhum deles, com as curvas da vida real do Brasil de hoje — há muito mais gente querendo ver Marçal como prefeito de São Paulo do que interessada em ouvir os jornalistas, e especialistas, e analistas. O resultado é que o mundo das ideias permitidas, esse mesmo que passa a vida dizendo que não há solução fora da experiência, do jogo de cintura e da sabedoria final dos “políticos”, começa a entrar num estado de pré-pânico.

O estilo de Marçal ofende as sensibilidades dos engomadinhos, mas quem partiu para cima com violência física foi o candidato do PSDB! E o partido reagiu afirmando que Datena segue como o candidato, ou seja, pode jogar cadeira sim, se for tucano! O mesmo, em grau maior, acontece nos Estados Unidos: Trump é a grande ameaça à democracia, mas quem sofreu dois atentados em dois meses foi ele, não a democrata. No episódio deste domingo, um atirador foi pego antes de poder alvejar o candidato republicano. Era um democrata.

“Não há espaço para a violência na política americana”, diz nota de Kamala Harris. Mas os democratas, além de instrumentalizar a Justiça contra Trump, alegam que o bilionário é uma espécie de Hitler reencarnado, que vai destruir a nação – ignorando que ele foi presidente faz pouco tempo com bons resultados. Essa demonização não é um convite à violência? Impedir a todo custo Hitler não seria sinônimo de salvar a democracia? O mesmo partido que relativiza atos violentos do Black Lives Matter quer bancar o defensor das boas maneiras enquanto instiga os piores instintos em sua base radical.

A esquerda faz tudo pelo poder. É uma tribo hipócrita, violenta e obcecada pelo controle de nossas vidas. Quando sentem que estão prestes a perder esse poder, os esquerdistas apelam. Acusam seus adversários de coisas terríveis diante de um espelho. Projetam nos outros o que são. Basta pensar no odiento imitador de focas querendo dar lições sobre tolerância. Investem na divisão da sociedade para avançar com seu projeto de poder. Justificam a violência quando não há mais o que fazer, pois a esquerda tem um salvo-conduto para agir fora da lei.

O povo vai alimentando uma revolta crescente, sentindo-se aviltado deste processo democrático fajuto, e clama por alguém disposto a escancarar a farsa e enfrentar seus inimigos. Acaba correndo o risco de transformar qualquer um disposto a cumprir esse papel em herói. Mas é o cansaço diante do engodo dos “profissionais” que normalizam a violência política se praticada contra um lado do espectro ideológico: o direito.

Se a política, a diplomacia e a própria democracia existem para mitigar o risco de se resolver as divergências no braço ou nas armas, então é preciso que a direita tenha de fato a liberdade de participar do processo. Caso contrário, um dia a esquerda vai acabar conseguindo fazer com que mais e mais gente passe a defender o vale tudo, a volta do tribalismo, já que hoje só um lado pode lançar mão desses métodos toscos, violentos e ultrapassados. Ninguém vai aceitar levar cadeirada passivamente para sempre…

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

Tags: