Não é segredo para ninguém que o Brasil sempre incomodou os franceses com sua produção agropecuária, afinal somos os maiores produtores de alimentos. Escreve Luciano Vacari.
25/11/2024 05:36
“E isso deve ser o que mais dói, a certeza da ineficiência”
Nos últimos dias um tema tomou conta das discussões nos grupos de whatsapp e rodas de bate papo Brasil afora, a declaração do CEO do Grupo Carrefour, o senhor Alexandre Bompard, um cidadão francês de 52 anos de idade, e apenas 8 anos de firma.
Por meio de uma carta endereçada ao compatriota e presidente da FNSEA – Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França, o executivo declarou que “em solidariedade ao mundo agrícola, o Carrefour se compromete a não comercializar nenhuma carne do Mercosul”, e como se não bastasse foi além dizendo “esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade, além do papel da distribuição, que já lidera a luta em favor da origem francesa da carne que comercializa, e, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer”.
Pronto, foi o estopim para uma guerra de narrativas envolvendo as mais altas patentes políticas, sindicais, militares e eclesiásticas do Brasil e França, começando pelo, e com toda razão, pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil – MAPA que reforçou nosso rigoroso controle sanitário e boas práticas de produção.
Logo em seguida vieram as grandes Entidades exportadoras de proteína animal, a Associação Brasileira de Proteína Animal – ABPA e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes – ABIEC, reforçando a qualidade dos nossos produtos, a rigorosa legislação ambiental a que o país é submetido e classificando a declaração do CEO francês como protecionista. Pouco tempo depois, em meio a um visível constrangimento, o a rede varejista mundial disse que a atitude se restringiria às unidades na França, e que no Brasil nada mudaria.
Até aí tudo certo, afinal é legítimo que as Entidades defendam seus interesses.
Mas o fato é que precisamos entender o porquê dessa declaração, afinal um executivo dessa magnitude não começaria uma crise comercial internacional à toa. E a explicação é muito simples, ele jogou para a torcida de maneira populista e irresponsável.
Foi irresponsável por que colocou em foco a produção agropecuária de um gigante mundial que é o Brasil, reconhecido internacionalmente pela qualidade, a sustentabilidade e volume de sua produção de proteína animal, e foi populista por que quis fazer um afogo aos seus colegas franceses em meio a crise entre os camponeses nacionais e o governo central, tudo por que neste exato momento a União Europeia está discutindo o acordo com o Mercosul, e que a França é contrária.
Viram como tudo tem uma explicação?
Não é segredo para ninguém que o Brasil sempre incomodou os franceses com sua produção agropecuária, afinal somos os maiores produtores de alimentos, fibras e energia do mundo, e sim vão continuar fazendo de tudo para dificultar a entrada dos nossos produtos.
E para piorar o inflado ego dos franceses, os produtores brasileiros dão um show de eficiência e competitividade, por que nas terras de Cabral se produz tudo isso sem nenhum centavo de subsídio, ao contrário das terras de Luiz XV, onde cada beterraba colhida vem repleta de benesses do trono. E isso deve ser o que mais dói, a certeza da ineficiência.
O fato é que o Brasil saiu fortalecido nesse lamentável episódio, já que graças ao infeliz executivo francês o Brasil se fortaleceu perante a comunidade mundial e mostrou que é possível lutar o bom combate sem privilégios, e sem jogar para a torcida.
Por Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.